Cristiane Jungblut, Martha Beck e Isabel Braga
O Globo - 09/12/2011
Governo cogita chegar a uma alíquota de 8,5% para que Câmara
vote previdência complementar do servidor
BRASÍLIA. Numa sinalização ao mercado, o governo quer
aprovar na Câmara, na próxima semana, o projeto que cria a previdência
complementar para o servidor público e, para isso, aceitará até que os
parlamentares aprovem uma alíquota de contribuição maior para a União, que pode
chegar a 8,5%. Essa parcela a mais da União irá para um fundo equalizador que
servirá para, no futuro, corrigir os benefícios de servidores com
aposentadorias especiais, como mulheres, professores e policiais rodoviários e
de fronteiras - a estimativa do próprio governo é que esse grupo perderá até um
terço de suas aposentadorias por contribuir cinco anos menos.
Mas o acordo costurado nos bastidores entre governo e
Congresso prevê que a diferença de um ponto percentual entre os 7,5% fixados
pela Fazenda e os 8,5% pedidos pelo PT seja colocada num artigo à parte da lei.
Isso resguardaria a futura lei de problemas jurídicos - se essa questão for
considerada ilegal será retirado apenas o artigo específico.
Apesar do pedido do ministro da Fazenda, Guido Mantega, o
Senado só votará a matéria ano que vem. Mesmo assim, ontem, o governo deflagrou
estratégia para fazer um debate conjunto de deputados e senadores, para evitar
mudanças quando a proposta chegar ao Senado.
Após várias reuniões na Fazenda e no Congresso, o ministro
Mantega engrossou o discurso sobre o perigo de o país ter problemas no futuro
com seus aposentados. Em 2011, o déficit da previdência pública chegará a R$57
bilhões.
Mantega repetiu também que o fundo é um instrumento importante
para dar mais solidez às contas públicas.
- O fundo é muito importante para o servidor porque vai dar
mais segurança para a aposentadoria no futuro, e também dará mais segurança
fiscal para os próximos 40 a 50 anos - disse Mantega, lembrando que o mecanismo
reduzirá significativamente o déficit da Previdência Social no país: - Isso é
uma grande reforma da previdência porque metade do déficit hoje vem do
funcionalismo público.
Para o ministro, é obrigação do poder público agir para
evitar que desequilíbrios nas contas públicas deixem os servidores
desprotegidos no futuro. Ele citou a crise europeia, onde os problemas fiscais
dos países estão fazendo com que eles tenham que rever seu sistema
previdenciário:
- Vocês estão vendo o que está acontecendo hoje na União
Europeia, onde os trabalhadores estão vendo suas aposentadorias reduzidas. Não
queremos que isso aconteça nem no presente e nem no futuro no Brasil.
De público, o governo ainda não admite a concessão de
aumentar em um ponto percentual a contribuição da União.
- Em princípio, a nossa posição é manter 7,5% garantindo
aposentadorias especiais - disse Mantega, lembrando que o aumento de um ponto
percentual na alíquota eleva os custos da União em algo entre 10% e 15%.
O líder do governo na Câmara, Cândido Vaccarezza (PT-SP),
confirmou que a votação deve ocorrer semana que vem. Mas evita bancar o acordo
em torno dos 8,5%.
- Há possibilidade de a Câmara votar 8% a 8,5%. Acho que a
tendência é ficar em 8%.