O Estado de S. Paulo - 18/06/2012
Das 30.548 vagas, 22.902 estão em instituições parcialmente
paralisadas
As inscrições de meio do ano no Sistema de Seleção Unificada
(Sisu) começam hoje com 75% das vagas disponíveis em instituições que estão em
greve. Das 30.548 vagas oferecidas no processo, 22.902 estão em universidades e
institutos federais com parte das atividades paralisadas por conta do
movimento. A greve pode prejudicar o calendário das universidades e a matrícula
dos novos alunos.
O Sisu é o sistema informatizado que concentra as vagas das
instituições de ensino que adotam o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) como
processo vestibular. O processo é aberto duas vezes por ano, no fim e no meio.
Das dez instituições que mais oferecem vagas nessa edição,
apenas duas não estão em greve (mais informações nesta página). A campeã em
oferta, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com 3,6 mil vagas, é
uma das que estão em greve.
Com exceção da Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) - que
mantém indicativo de greve, mas ainda não aprovou a adesão -, todas as
universidades federais que participam do Sisu no meio de ano aderiram à
paralisação nacional. As instituições que não estão em greve e participam do
Sisu são institutos e universidades estaduais.
A greve dos professores das instituições federais completou
ontem um mês. Ao longo desse período, o movimento cresceu e conta com 54
instituições. A categoria pede, sobretudo, a reformulação no plano de carreira,
mas a melhora na precariedade dos câmpus e unidades também entrou na pauta.
Na semana passada, os servidores técnicos também cruzaram os
braços. Em geral, são eles que efetuam as matrículas, marcadas para o dia 29.
Decisões judiciais anteriores exigem que os servidores mantenham mínimo de 30%
das atividades em funcionamento mesmo com a greve.
Reunião. Com receio que a greve continue crescendo e atinja
outras áreas do funcionalismo, o governo convocou uma reunião com os
sindicatos, na última terça-feira. Pediu uma trégua de 20 dias - em uma aposta
para garantir o retorno às aulas e a normalidade das matrículas. Mas a
categoria recusou interromper o movimento sem ouvir uma proposta.
"É uma indecência o governo pedir uma trégua sem uma
proposta clara em relação à carreira", afirma Clarisse Gurgel, do comando
nacional de greve do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino
Superior (Andes).
O Ministério do Planejamento, que está tocando as
negociações, marcou para amanhã uma segunda reunião para detalhar a proposta. O
encontro acontece às 10 horas, em Brasília. Os professores mantêm a
expectativa, mas a opinião geral é de que a greve não deve terminar.
Na negociação anterior, semana passada, o Planejamento
vislumbrou que a ideia do governo era oferecer um projeto de carreira parecido
com o dos docentes ligados ao Ministério da Ciência e Tecnologia - o que não
animou os sindicalistas.
"Eles estão com a perspectiva de uma proposta salarial
e esquecem a proposta de uma carreira. E a referência é na Ciência e
Tecnologia, que tem problemas, é muito voltada para a política de gratificação
por produção, o que não é interessante para os docentes", completa
Clarisse.
A professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp)
Virginia Junqueira, presidente da associação dos docentes, lembra que os
representantes do governo sequer tocaram em muitas das reivindicações.
"Precisamos da valorização da dedicação exclusiva,
lutamos para que o professor que se dedique à universidade", diz ela.
"Eu acredito que a greve não acabe amanhã. Os professores estão
conscientes que é importante o debate da carreira, não só o salário."
Crescimento. Mesmo com o aceno do governo, a greve só tende
a crescer. Além das Universidade Federal de Pelotas (UFPEL) manter o indicativo
de greve, a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) também deu o mesmo
sinal e deve parar a partir de amanhã.