O Estado de S. Paulo - 06/06/2012
A greve das universidades federais chega ao seu 20.º dia,
com a realização de uma marcha de professores, em Brasília, para pressionar o
governo a atender às reivindicações dos grevistas. Além de reclamar da
defasagem salarial com relação a outras carreiras federais, a categoria exige
mudança na estrutura de cargos, melhores condições de trabalho, incorporação de
gratificações e unificação da carreira, com 13 níveis de remuneração e variação
de 5% entre esses níveis.
Com base nos índices do Dieese, os professores pleiteiam
ainda um aumento de R$ 1.597,92 para R$ 2.329,35 no piso salarial para o regime
de 20 horas semanais. E também criticam o Programa de Apoio à Reestruturação e
Expansão das Universidades Federais, que foi lançado pelo presidente Lula em 2007.
Segundo eles, a criação de novas instituições federais de ensino superior e a
construção de novas unidades por instituições já existentes foram feitas às
pressas, com salas lotadas, excesso de disciplinas, orientações pedagógicas
conflitantes e ausência de laboratórios, de bibliotecas, de estrutura para
pesquisa e de política de assistência ao estudante.
Quando a greve foi deflagrada, o ministro Aloysio Mercadante
afirmou que não via sentido na paralisação, uma vez que o governo vinha
cumprindo o acordo firmado no ano passado, que previa um reajuste de 4% nos
salários dos professores das universidades federais e das instituições técnicas
mantidas pela União. Em nota, o Sindicato Nacional dos Docentes do Ensino
Superior (Andes) alegou que o acordo de 2011 foi "emergencial". Disse
que as autoridades educacionais haviam prometido negociar um novo plano de
carreira. E pediram "o agendamento de reuniões com urgência", para
evitar um impasse.
Mercadante dispôs-se a receber os líderes dos grevistas e
alegou que a demora para o início das discussões foi causada pela morte, em
janeiro, do secretário executivo do Ministério do Planejamento, Duvanier Paiva,
o principal negociador do governo. Contudo, a reunião marcada para a semana
passada com o comando de greve e a direção do Andes foi cancelada a pedido do
ministro da Educação, que alegou estar com "problemas de agenda".
Outra reunião prevista para esta semana com o secretário de
Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, também foi
desmarcada. A justificativa foi de que a equipe econômica do governo tem de
reavaliar sua posição, antes de apresentar uma contraproposta de reajuste
salarial para o professorado. O Palácio do Planalto teme que todos os setores
do funcionalismo federal, invocando isonomia, exijam o que for concedido aos
professores. Os sindicatos dos servidores da União já acenaram com a
possibilidade de promover uma greve geral ainda este mês.
A greve dos docentes começou na segunda quinzena de maio com
a suspensão das aulas em 41 das 59 universidades federais. Quase três semanas
depois, 49 universidades e 4 dos 40 institutos de ensino técnico e centros
tecnológicos federais estão com as atividades suspensas. Até as principais
universidades da rede - como as de São Paulo e do Rio de Janeiro - aderiram à
paralisia. A maior de todas - a UFRJ - não entrava em greve desde 2001. As
aulas também foram suspensas nas universidades que o governo do presidente Lula
criou nas cidades onde estão os maiores redutos eleitorais do PT.
É esse o
caso, por exemplo, da UFABC, com sede em Santo André. Segundo o Andes, mais de
1 milhão de alunos estão sem aula, por causa da greve. No governo, a estimativa
é de que a paralisação tenha atingido apenas 500 mil alunos. Convertida em
entidade chapa-branca, a União Nacional dos Estudantes (UNE) limitou-se a
emitir notas de apoio aos professores das federais, sugerindo que a receita a
ser obtida com a exploração do pré-sal seja aplicada em educação.
O ensino superior foi um dos principais redutos do PT, durante
anos. A greve está mostrando que, se o partido continua controlando o movimento
estudantil, perdeu sua hegemonia entre as entidades docentes.