O Estado de S. Paulo -
29/06/2012
Presidente está irredutível e alega que crise internacional
recomenda austeridade; sindicato prevê que até 500 mil cruzarão os braços
BRASÍLIA - A insatisfação dos servidores públicos com a
intransigência da presidente Dilma Rousseff em conceder reajustes salariais,
diante do cenário de crise econômica internacional, aumentou o risco de o
governo enfrentar uma greve geral do funcionalismo. O último movimento grevista
importante no Brasil ocorreu ainda no primeiro mandato do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. Em reunião encerrada nesta quinta-feira, 28, à noite,
servidores das dez agências reguladoras declararam-se em estado de greve a
partir de segunda-feira. A maioria das categorias já paradas ou com indicativo de
greve quer correção dos salários em 2013.
Personagem das mobilizações, o secretário-geral da
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef), Josemilton
Costa, avalia que cerca de 300 mil servidores já cruzaram os braços. A greve,
segundo ele, pode alcançar 500 mil servidores. "A construção é a greve
geral", adiantou.
A Condsef é filiada à Central Única dos Trabalhadores (CUT)
- braço sindical do PT, que apoia a greve geral do funcionalismo.
"O governo não consegue apresentar uma contraproposta,
só faz protelar a discussão", criticou o diretor da CUT Pedro Arnengol. As
categorias têm reivindicações diferentes, mas a maioria quer reajuste de 22%
dos salários.
Os servidores têm ouvido que o governo terá uma resposta até
31 de agosto, prazo final para o envio ao Congresso da proposta de lei
orçamentária de 2013.
Nesta quinta, a ministra Ideli Salvatti (Relações
Institucionais) insistiu que não haverá aumentos de salário para o
funcionalismo neste ano. "Se as greves forem mantidas, vão gerar um
impasse sem eficiência e sem eficácia. Não há possibilidade, principalmente em
um momento de crise, de executar novas despesas não previstas", afirmou a
ministra.
A colega do Planejamento, Miriam Belchior, encarregada de
negociar com os servidores, optou por não se manifestar. Sua assessoria informou
que o processo de negociação está em curso e não há data para a apresentação de
uma contraproposta.
O ministério informou ainda não ter um mapa da dimensão do
movimento grevista. Nesta quinta, houve uma nova manifestação em frente ao
prédio do Planejamento. O ato reuniu representantes de 22 categorias de
servidores públicos.
"O governo mais uma vez protelou", destacou o
presidente do Sindicato Nacional dos Servidores das Agências Nacionais de
Regulação (Sinagências), João Maria Medeiros de Oliveira, após a plenária
concluída quinta à noite. Nela, a categoria que reúne 7 mil funcionários,
resolveu parar a partir do dia 17, por tempo indeterminado, se a negociação não
avançar até lá. Além das dez agências reguladoras, que tratam de vigilância
sanitária, petróleo, aviação civil e energia elétrica, por exemplo, também
aderiu ao movimento do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), que
cuida das autorizações de pesquisa e lavra no País.
Professores. A greve mais longa em curso é a dos professores
universitários, parados há 43 dias. Segundo balanço dos sindicatos, das 59
universidades, 56 estão paradas. Dos 38 Institutos Federais de Educação, 36
também aderiram à greve. Os professores pedem, entre outras coisas, aumento do
piso salarial para R$ 2.329,35 para 20 horas semanais de trabalho. Hoje, o
valor é de R$ 1.597,92.
Nesse período, houve apenas uma reunião com o governo. Uma
segunda reunião de negociação, marcada para 18 de junho, foi desmarcada pelo
Ministério do Planejamento.
Nesse mesmo dia, os auditores fiscais da Receita Federal -
que integram as categorias com salários mais altos no serviço público iniciaram
uma operação-padrão por reposição salarial de 30,18%. A partir de 1º de agosto,
os auditores poderão parar.
A Polícia Federal, outra integrante do grupo de servidores
com salários mais altos, também discute cruzar os braços. "Decidimos que
não vamos mais participar de reuniões para marcar mais uma reunião. Já
apresentamos o que queremos, o Planejamento reconhece os nossos pleitos, mas
não apresenta uma forma para resolver", disse Jonas Leal, presidente do
Sindicato dos Policiais Federais (Sindipol).
Num movimento inédito, funcionários do Ministério de
Relações Exteriores também entraram em greve há dez dias. O sindicato
contabiliza a adesão em 129 embaixadas, consulados ou postos de representação
no exterior. Nesta quinta, representantes da categoria foram recebidos no
Ministério do Planejamento, mas não há sinal de volta ao trabalho.