Rosana Hessel e Juliana
Braga
Correio Braziliense
- 18/07/2012
Apesar da pressão do funcionalismo público, o governo Dilma
Rousseff pretende priorizar recursos para estimular a economia, a fim de manter
o emprego na iniciativa privada.
Presidente prefere usar dinheiro do Orçamento para reativar
a economia do que dar reajuste a servidores que têm estabilidade
Enquanto a economia brasileira encolhe a olhos vistos em
meio ao agravamento da crise global — as projeções de crescimento do Produto
Interno Bruto (PIB) neste ano estão em 1,9% —, a palavra de ordem dentro do
Palácio do Planalto é manter fechadas as torneiras para reajustes dos
servidores. Diante da decisão de parte do funcionalismo de cruzar os braços
como pressão por aumento de salários, a presidente Dilma Rousseff mandou avisar
que não cederá, nem mesmo aos professores, que exigem uma nova proposta, por
considerarem inaceitável a correção de até 45% apresentada na última
sexta-feira pelo Ministério do Planejamento.
Na avaliação da presidente, qualquer recurso disponível do
Orçamento de 2013, que ainda está em elaboração em meio a um quadro de
frustração de receitas, será destinado ao incremento da atividade (leia mais na
página 13). Dilma quer estimular a economia para preservar os empregos
privados, segundo ela, ameaçados pela crise. "Os servidores já tiveram
reajustes nos últimos 10 anos e têm estabilidade. Mesmo que aconteça o pior na
Europa e nos Estados Unidos, continuarão empregados. Portanto, devem dar a sua
cota de sacrifício", disse um assessor do Planalto. Os servidores
entregaram uma fatura de R$ 92,2 bilhões ao governo, quantia que, segundo a ministra
do Planejamento, Miriam Belchior, representa 50% da atual folha de salários do
funcionalismo.
Ontem, a ministra da Secretaria de Relações Institucionais,
Ideli Salvatti, recebeu um grupo de sindicalistas em seu gabinete e sinalizou
que o governo não está disposto a abrir uma janela para negociações, o que
frustrou o novo presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Wagner
Freitas. Ele pediu a Ideli que intercedesse para destravar as negociações entre
os servidores e o Planejamento. "Colocamos à ministra que, na nossa
avaliação, é muito ruim o processo de greve dos servidores ocorrer e o governo
não fazer nenhuma proposta", disse Freitas. "É necessária a
negociação com outras categorias, além dos professores", emendou.
Quem passou pela Esplanada dos Ministérios ontem para
conferir o segundo dia de acampamento dos servidores públicos federais em greve
viu muita festa e pouca manifestação. Nas tendas armadas no gramado da
Esplanada dos Ministérios, ao lado da Catedral, muitos dos servidores bebiam
cerveja, munidos de pandeiros e tambores. O divertimento só foi interrompido
durante a primeira atividade do dia: uma marcha até o Planalto marcada para as
14h30, que agregou 400 pessoas. Para conter os grevistas — alguns já alterados
—, a organização do acampamento pediu para que os ambulantes que vendiam
bebidas alcoolicas e churrasco se retirassem da área das barracas.
Ao contrário do primeiro dia, desapontador para o movimento,
vários servidores circularam pelo local e cerca de 50 barracas já estavam
armadas no fim da tarde de ontem. Hoje, a marcha pela Esplanada até o bloco K
do Ministério do Planejamento é a grande aposta dos manifestantes para
pressionar o governo pelo reajuste salarial. A expectativa é de que a caminhada
reúna 5 mil servidores, que devem chegar nesta manhã direto para o evento.