domingo, 19 de agosto de 2012

Greve expõe crise na PF


Maria Clara Prates
Correio Braziliense     -     19/08/2012





Se a crise vivida pela Polícia Federal tem sua face mais visível na paralisação de diversas categorias da corporação, a desvalorização do trabalho da Polícia Judiciária da União pode ser medida pelo encolhimento do efetivo, excesso de trabalho, doenças e até um número assustador de suicídios, em média um por mês no último ano. O apogeu da PF foi vivido no primeiro governo Lula, quando ela chegou a ter 15 mil agentes, de acordo com Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF). Hoje, conta com apenas 11 mil, uma queda de 26,6%.


No horizonte, o único aceno é a abertura de um concurso para preencher 1,2 mil vagas até 2013, o que deixará o órgão, na véspera de grandes eventos — Copa do Mundo, em 2014, e Olimpíadas, em 2016 — com quadro de pessoal aquém do ideal. São 6,9 mil agentes e 1,7 mil delegados para cuidar das fronteiras e combater crimes. Não bastasse o cobertor curto, internamente a PF vive também uma queda de braço entre agentes e delegados.


Em maior número e com diploma de curso superior, os agentes defendem o fim da carreira de delegado, que rejeitam categoricamente a proposta. Os ataques de lado a lado são públicos, ganharam espaço com o movimento grevista e o entendimento parece distante. 


Houve também perda de prestígio popular da corporação, que em 2007 tinha 70% de aprovação, índice que hoje não passa de 60%, segundo pesquisa da CNT/Sensus.

Lei orgânica
O presidente da Associação dos Delegados Federais, Marcos Leôncio, diz que a solução só virá com a lei orgânica da PF e completa restruturação administrativa, que inclui criação de novos cargos e definição de funções. "São essas omissões que alimentam as disputas internas. Não existe solução a curto prazo", defende. Segundo ele, o projeto da lei orgânica foi enviado pelo Executivo em 2009, mas está esquecido na burocracia do Congresso. 


"O governo não chamou para si a responsabilidade de promover a restruturação, única forma de gerar estabilidade na corporação. Fez como Pôncio Pilatos: lavou as mãos."

Para Leôncio, a corporação tem hoje duas estruturas: uma formal e outra informal. "São chefias que existem de fato, mas não de direito. O servidor responde por uma função que não existe formalmente, mas que é necessária para o trabalho", explica. O dirigente lembra que várias estruturas do governo passaram por processos de restruturação, como o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e a Controladoria-Geral da União (CGU), e estão pacificadas. É indispensável a redistribuição de funções e cargos", defende.


Sem vigilância
As mazelas da Polícia Federal estão estampadas também em acórdão de auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). O trabalho de apuração, feito no ano passado, concluiu que a PF tem várias limitações para combater o tráfico de drogas nas fronteiras do país. "As divisas do Brasil com outros países somam mais de 16 mil quilômetros, e o DPF conta com apenas 1.439 policiais nessa região", diz o documento.



Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra