O Estado de S. Paulo - 03/08/2012
Ao rejeitarem a última proposta salarial apresentada pelo
governo, que previa reajuste de 25% a 40%, escalonado em três anos e de acordo
com o cargo e a titulação do docente, os 140 mil professores das universidades
federais deixaram claro que são eles que não querem negociar com os Ministérios
do Planejamento e da Educação (MEC). Quando entraram em greve, há dois meses e
meio, era a categoria que acusava o governo de não querer dialogar e, muito
menos, de querer negociar.
Com isso, o semestre letivo começou sem aulas em 57 das 59
universidades e em 33 dos 37 institutos e escolas técnicas federais. Como a
suspensão das atividades nos últimos 75 dias se concentrou nos cursos de
graduação, pois na pós-graduação o docente que não trabalha perde a bolsa de produtividade
paga pelas agências de fomento à pesquisa, os maiores prejudicados são os
alunos do quarto e do quinto ano. Eles terão de adiar não apenas as solenidades
de formatura, mas também seus planos profissionais, uma vez que o cronograma de
aulas de 2012 está comprometido.
Além de reajuste de salários e gratificações, os docentes
das universidades e escolas técnicas federais reivindicam um novo plano de
carreira, alegando que demoram muito tempo para chegar ao posto máximo, de
professor titular. E, nas universidades que foram inauguradas pelo governo do
presidente Lula, eles também pedem melhores condições de trabalho, reclamando
que não dispõem de laboratórios, bibliotecas, computadores e até mesmo de salas
de aula em número suficiente.
Desde o início da greve, que começou no dia 17 de maio, o
governo já apresentou duas propostas - ambas rejeitadas pelas duas principais
entidades sindicais do professorado, o Sindicato Nacional dos Docentes das
Instituições de Ensino Superior (Andes) e o Sindicato Nacional dos Servidores
Federais da Educação Básica, Profissional e Tecnológica (Sinasefe). A primeira
proposta, que previa um reajuste salarial escalonado de 8% a 25%, aumentava em
R$ 3,9 bilhões os gastos da União com a folha de pagamento do professorado das
universidades e escolas técnicas federais. A segunda proposta tinha um impacto
de R$ 4,2 bilhões nas contas públicas.
"A greve vai continuar. Vamos ver quem tem mais
força", afirma a presidente da Andes, Marinalva Oliveira, que é professora
de psicologia da Universidade Federal do Amapá. "A responsabilidade está
no colo do governo. Cabe a ele elaborar uma proposta que atenda minimamente às
reivindicações da categoria. Ninguém é louco de achar que todas as demandas
serão atendidas, mas tem que contemplar pelo menos algumas delas",
argumenta o coordenador-geral do Sinasefe, David Lobão, que também critica o
projeto de progressão da carreira docente apresentado pelo MEC na semana
passada, por condicioná-la à titulação e não ao tempo de serviço dos professores.
Mas, segundo a ministra do Planejamento, Miriam Belchior, o
governo não tem condições de apresentar uma terceira proposta, por causa da
retração da economia e da queda na arrecadação de impostos. Para o secretário
de Educação Profissional e Tecnológica do MEC, Marco Antonio de Oliveira, o
governo chegou ao "limite", em matéria de proposta salarial.
"Dialogamos, fizemos tudo o que era possível e procuramos atender a
algumas demandas consideradas justas", afirma o secretário de ensino superior
do MEC, Amaro Lins.
Além do problema orçamentário, o impasse entre o governo e o
professorado das escolas técnicas e universidades federais tem um componente
político. As principais entidades sindicais do professorado das instituições
federais sempre estiveram próximas da CUT e do PT. Mas, nos últimos anos, a
Andes e o Sinasefe vincularam-se ao PSOL e ao PSTU, dois pequenos partidos de
extrema esquerda, e à central sindical por eles controlada, a Conlutas. Embora
os dirigentes da Andes e do Sinasefe tenham prometido não
"partidarizar" a greve, fica evidente que ela é política e que os
grevistas estão agindo não só por razões corporativas, mas também com vistas às
eleições de outubro.