Ana Carolina Dinardo
Correio Braziliense
- 03/08/2012
Com a queda da arrecadação em junho e julho, está mais
difícil para o governo encontrar verbas que contemplem programas de incentivos
à indústria e reajuste ao funcionalismo
A presidente Dilma Rousseff não está disposta a ceder às
pressões dos servidores em greve há quase dois meses por aumento linear de 22%
nos salários. Ela já foi avisada pela equipe econômica de que, com a queda das
receitas em junho e julho (os números do mês passado ainda não foram divulgados
oficialmente), dificilmente o governo encontrará recursos para dar incentivos
tributários de até R$ 30 bilhões à indústria e ainda dar aumentos ao
funcionalismo em 2013.
“Temos até o 12 de agosto para levantar todos os dados. Só
então, o Ministério do Planejamento se sentirá confortável para voltar a
conversar com os servidores”, disse um assessor de Dilma. Mas, segundo ele, se
a presidente tiver de optar entre incentivar as empresas, cortando impostos
sobre a folha de salários para estimular a produção e os empregos, e dar
reajustes ao funcionalismo, certamente ela ficará com a primeira opção. “Mesmo
reconhecendo a importância do funcionalismo público, o momento, de grave crise,
exige que o governo priorize o setor privado, bastante vulnerável”, assinalou.
Diante da resistência do governo, a greve dos servidores
ganha adesões a cada dia. Ao todo, mais de 20 carreiras, quase 400 mil pessoas,
estão de braços cruzados nos 26 estados e no Distrito Federal. O Palácio do
Planalto reconhece que a situação é preocupante, para a paralisação está
afetando setores estratégicos, como a Receita Federal, a Polícia Federal e a
Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), além da fiscalização agropecuária em
portos e aeroportos. O país, por sinal, já está perdendo exportações, o que
pode comprometer o saldo comercial deste ano.
Os servidores não querem somente reajustes salariais.
Pleiteiam a reestruturação de carreiras, concursos públicos para complementar o
quadro de pessoal e melhores condições de trabalho. “É importante destacar que
o nosso objetivo vai muito além de aumento de salário. O governo precisa
investir pesado no serviço público”, disse o presidente do Sindicato Nacional
dos Servidores das Agências Nacionais de Regulação, João Maria Medeiros. Para a
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público (Condsef), os
próximos dias serão decisivos, pois, até o dia 31 de agosto, o governo terá de
enviar a proposta de Orçamento de 2013 ao Congresso Nacional.
Braços cruzados no
BC
Os funcionários do Banco Central vão cruzar os braços por 24
horas na próxima quarta-feira, 8 de agosto. A paralisação foi aprovada, ontem,
em assembleias realizadas em Brasília e nas nove regionais da instituição. Os
servidores se dizem decepcionados com o governo, que, segundo eles, se recusa a
negociar com a categoria. A frustração poderá levar à aprovação de um
indicativo de greve por tempo indeterminado ainda neste mês.
Segundo o
Sindicato Nacional dos Funcionários do BC (Sinal), a parada do órgão poderá
prejudicar operações nos mercados de câmbio e de títulos públicos, além de afetar
o andamento de ações na Justiça e os trabalhos das Comissões Parlamentares de
Inquérito. O Banco Central recebe inúmeros pedidos de informações todos os
dias. Às demandas dos funcionários, o governo tem uma única resposta: não há
previsão de recomposição salarial.