Blog do Vicente
- 27/07/2013
Os servidores públicos não têm se intimidado em aumentar as
dívidas. Dados do Banco Central mostram que os funcionários das três esferas de
governo — União, estados e municípios —
já devem R$ 128 bilhões aos bancos por meio do crédito consignado, com desconto
em folha de pagamento. O volume é 7,5 maior do que o total dos débitos de
trabalhadores da iniciativa privada (R$ 17 bilhões) e quase do dobro dos
empréstimos concedidos aos aposentados e pensionistas do Instituto Nacional do
Seguro Social (R$ 63,3 bilhões).
O apetite dos funcionários públicos pelo crédito consignado
é enorme. Nos 12 meses terminados em junho, o saldo devedor aumentou 18,5%,
quase três vezes mais o incremento de 7,9% computado em todas as operações
destinadas às pessoas físicas. No ano, as dívidas com desconto em folha dos
servidores avançaram 10,8% ante os 3,3% do total de empréstimos e
financiamentos aos consumidores.
Segundo o Ministério do Planejamento, que controla as
operações de consignado do funcionalismo federal, não se pode falar em
superendividamento, pois o limite legal de comprometimento da remuneração do
servidor é de, no máximo, 30%. As dívidas podem ser pagas em, no máximo, 60
parcelas.
Mesmo com regras bem estabelecidas, o crescimento desse tipo
de crédito preocupa, na avaliação do professor de matemática financeira José
Dutra Vieira Sobrinho, vice-presidente da Ordem dos Economistas do Brasil. “As
pessoas que tomam esse empréstimo também têm financiamentos de carros ou
imóveis, no cartão de crédito. Chega uma hora que começa a faltar dinheiro e
aumenta a inadimplência. Não no consignado, porque ele é descontado diretamente
no salário, mas em outras modalidades que têm juros maiores”, alertou.
Segundo o professor, o aumento no saldo do crédito
consignado também é justificado pelo assédio de bancos e financeiras aos
clientes, sobretudo em relação aos servidores, que têm altos salários e
estabilidade. No caso dos pensionistas do INSS, pesa a garantia do
contracheque. “Eu mesmo, que sou aposentado, já recebi três ligações num mesmo
dia de três bancos diferentes para me oferecer o serviço. E eles já sabiam o
valor do meu benefício e quanto eu podia contratar”, afirmou Dutra.
Educação
Para o educador financeiro Mauro Calil, fundador da Academia
do Dinheiro, é normal que as estatísticas apontem um maior endividamento dos
funcionários públicos no crédito consignado. “Essa linha oferece juros muito
baixos, porque o servidor tem estabilidade no emprego e capacidade maior de
pagamento. Tulio Maciel, chefe do Departamento Econômico do Banco Central,
afirmou que os funcionários públicos estão saindo do cheque especial e cartão
de crédito para o consignado, “a migração do crédito mais caro para mais barato
é positiva”, avaliou.
De acordo com Calil, não raro gerentes de instituições
sugerem que o cliente deixe o dinheiro aplicado na poupança e contrate um
crédito consignado para, por exemplo, trocar de carro. “Isso é comum e também
um erro enorme. A poupança não vai render o que custa um empréstimo”, disse.
A servidora no Ministério da Saúde Valdiléia Carvalho, 28
anos, pensa em usar o crédito consignado pela primeira vez para a compra de um
apartamento à vista, de R$ 100 mil. “Vou pegar R$ 60 mil com o banco para
juntar com uma reserva que tenho”, contou. Para que as parcelas caibam no
bolso, ela optou por financiar o débito por cinco anos.
O servidor no Ministério do Desenvolvimento Social e Combate
à Fome (MDS) Aírton Xavier, 36, pegou o mesmo tipo de crédito em abril deste
ano para quitar outra dívida. “No ano passado, peguei R$ 36 mil emprestados
para quitar meu veículo. Mas resolvi fazer outro empréstimo, de R$ 48 mil, para
zerar o débito do carro e outros financiamentos, mais caros”, ressaltou. “Os
juros do são mais acessíveis”, disse.
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