Bernardo Caram
O Estado de S. Paulo
- 08/02/2014
Há casos de policiais que se recusam a cumprir ordens
durante operações; papiloscopistas e escrivães fizeram protesto ontem e ameaçam
parar na terça
A quatro meses da Copa do Mundo no Brasil, divergências
salariais e falta de concordância sobre a hierarquia na Polícia Federal criaram
uma rixa que tem prejudicado a atuação da instituição no País. De um lado estão
os delegados. De outro, os agentes, escrivães e papiloscopistas.
Como resultado do embate, surgem casos de policiais que se
recusam a cumprir ordens durante operações, inclusive em grandes eventos.
Um exemplo de que os atritos entre as categorias não são
raros pôde ser observado na manhã de ontem em Brasília. Enquanto agentes,
papiloscopistas e escrivães protestavam por melhores condições de trabalho na
frente da Superintendência Regional da Polícia Federal do Distrito Federal, um
delegado chegou de carro e avançou com o veículo em direção a manifestantes que
ocupavam parcialmente o acesso ao prédio. Logo, um dos agentes se exaltou e iniciou
um bate-boca com o delegado, que acabou retirando o veículo do local. Ao
Estado, o agente disse que tem boas relações com diversos delegados, mas
afirmou que muitos deles são "petulantes" e "provocativos".
"O pessoal está com os nervos à flor da pele e não aguenta mais
provocações."
O protesto fez parte de uma mobilização nacional e há
previsão de um dia de greve, na próxima terça-feira, além de outros dois dias
no fim de fevereiro. A paralisação, entretanto, será feita apenas pelos
agentes, papiloscopistas e escrivães. Em 2012, a categoria rejeitou um aumento
de 15,8% proposto pelo governo após 69 dias de greve. A mesma proposta foi
aceita pelos delegados e peritos, que passaram a receber o salário reajustado.
Desde então, a divisão entre os dois grupos se fortaleceu.
Em dias de greve, uma parcela dos policiais interrompe os trabalhos e a outra
continua atuando. Agentes reclamam que, dessa forma, os delegados enfraquecem o
movimento grevista. Para o presidente da Associação Nacional dos Delegados
Federais (ADPF), Marcos Leôncio Ribeiro, os delegados estão simplesmente
cumprindo suas tarefas. "Fizemos um acordo com o governo, temos uma Copa a
realizar e a Polícia Federal tem de continuar funcionando", disse. Segundo
ele, em dias de paralisação, aqueles que mantêm suas atividades acabam
trabalhando em dobro.
Ribeiro garante que os casos de agentes que se recusam a
realizar tarefas são pontuais. Em alguns casos, os policiais, que precisam
estar à disposição 24 horas por dia, desligam seus celulares pessoais com o
argumento de que não querem arcar com custos que deveriam ser da Polícia
Federal. Em outros casos, policiais se recusam a embarcar em missões.
Hierarquia. O segundo ponto de tensão entre as categorias
está na divergência sobre os conceitos de estrutura hierárquica. Os delegados
entendem que a PF deve ser comandada por delegados e a execução das atividades
deve ser feita pelos agentes.
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