BSPF - 23/03/2018
Os servidores do Banco Central (BC) prometem uma manifestação
na próxima quinta-feira, data de publicação do Relatório Trimestral de Inflação
(RTI). Eles pretendem ir de preto e fazer um ato simbólico pela falta de
diálogo com a diretoria da autoridade monetária. A insatisfação dos
trabalhadores se dá, principalmente, porque as propostas para reestruturação da
carreira não foram debatidas e uma parte das mudanças discutidas no governo não
foi repassada formalmente à categoria.
A principal cobrança dos servidores de nível superior está
ligada à mudança da nomenclatura da carreira. Eles deixaram claro que a medida
não está relacionada a aumento de salário. Eles pleiteiam que a carreira de
analista seja alterada para de auditor. Conforme eles, o trabalho de
supervisão, fiscalização, auditoria e monitoramento do sistema financeiro é
prejudicado nesse processo. Alguns relatam que em diversos trabalhos realizados
em instituições financeiras, os empregados de bancos e corretoras solicitam
falar com os auditores.
Outro obstáculo para a realização dos trabalhos é a falta de
uma identidade funcional semelhante à de auditores da Receita Federal. Tanto a
Receita Federal quanto o BC possuem autonomia para realizar fiscalizações sem
aviso-prévio. Com a identidade funcional, esse processo ganharia agilidade na
hora de os servidores se identificarem. No caso da autoridade monetária, os
servidores possuem apenas os crachás.
Em reunião realizada ontem no térreo do edifício-sede,
muitos também se queixaram que a autonomia operacional em lei, sem garantia de
autonomia financeira, não garante qualquer estabilidade. Alguns alertaram que a
medida pode enfraquecer o trabalho realizado e dar brecha para que ocorra
aparelhamento político, semelhante ao existente em agências reguladoras.
“Precisamos cobrar a Agenda BC+ Clareza”, disse um dos servidores que
participou do ato, que não contou com o suporte do sindicato da categoria.
Valorização
Além disso, o grupo quer manter o BC blindado de indicações
políticas e garantir que as funções de chefia de departamento, por exemplo,
sejam exclusivas de servidores de carreira, assim como é hoje. Alguns
explicaram que decisões recentes do governo, como a de abrir a possibilidade de
desligamento voluntário foi proibida apenas para as carreiras de auditoria. Os
analistas da autarquia podem solicitar o benefício.
Em meio ao embate, fica claro a necessidade de o governo
abrir um diálogo permanente com os servidores responsáveis por fiscalizar um
dos sistemas financeiros mais concentrados do mundo. O enfraquecimento da
categoria pode trazer prejuízos para a sociedade e a falta de valorização tem
levado a um êxodo de trabalhadores para cargos no Legislativo ou em outros
órgãos do Executivo.
Por Antonio Temóteo
Fonte: Blog do Vicente