Correio Braziliense
- 10/05/2018
Apoiadores de executivo dizem que dispensa do cargo não pode
ser decidida isoladamente pelo presidente do conselho
Em decisão monocrática, o presidente substituto do Conselho
de Administração da Geap Saúde, Manoel Messias Boaventura de Novais, encaminhou
ofício à gerência de Gestão de Pessoas, na última terça-feira, determinando a
demissão do diretor executivo da entidade, Roberto Sergio Fontenele Cândido.
Além dele, o diretor de Controle de Qualidade da Geap Saúde, Gilton Paiva Lima,
também foi dispensado. A decisão, entretanto, é questionada por apoiadores de
Fontenele, sob o argumento de que somente o colegiado, por meio de uma
resolução, poderia deliberar sobre o tema.
Fontenele ocupou o cargo por apenas 41 dias e foi demitido
após ser gravado em uma reunião com parte da equipe na qual afirma que médicos
e hospitais roubam os planos de saúde. As declarações, reveladas com
exclusividade pelo Blog do Vicente, prejudicaram a relação do executivo com
parte do conselho de administração e com prestadores de serviços.
Na conversa, Fontenele afirmou que, se a operadora não
conseguir uma injeção R$ 130 milhões até 30 de junho, poderá entrar em
“liquidação judicial” pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O
executivo não poupou críticas à gestão anterior e confessou ter ficado
assustado ao descobrir que a situação da empresa estava muito pior do que
imaginava. Segundo ele, a Geap Saúde perde 5 mil beneficiários por mês.
Atualmente, a operadora tem uma carteira de 455.251 clientes — 38,7% a menos do
que os 742.669 segurados de 2005.
No áudio, Fontenele fez um alerta sobre as finanças da
empresa e afirmou que o rombo total no caixa chega a R$ 330 milhões. Ele
comentou que uma das medidas que pretendia adotar para tentar cobrir o buraco
seria centralizar todos os pagamentos da Geap na diretoria executiva. Na época,
o diretor disse, em nota enviada ao Blog, que funcionários da Geap são
“cooptados e manipulados” por agentes privados.
No ofício que justificou a demissão de Fontenele, o
presidente do conselho de administração afirmou que a postura demonstrada pelo
executivo não condiz com a política de governança da Geap. Novais afirmou
ainda que o executivo não apresentou
resposta plausível de retratação aos profissionais parceiros do plano de saúde,
conforme solicitado pelo conselho.
Para piorar a situação, em ficha de avaliação, Novais
classificou como “abaixo do esperado” o desempenho de Fontenele na maioria dos
sete componentes analisados. O documento foi assinado de próprio punho pelo
presidente do conselho de administração da Geap em 8 de maio.
Imbróglio
O estatuto da Geap, entretanto, define que as deliberações
do conselho serão formalizados por meio de resoluções que entrarão em vigor a
partir da assinatura do presidente e publicadas na página eletrônica da
fundação. As decisões devem ser tomadas por maioria simples dos membros, com a
presença de dois terços dos conselheiros.
Quem conhece de perto a Geap afirmou que o processo de
demissão é nulo, já que o conselho de administração não se reuniu para, por
meio de uma resolução, definir o afastamento do executivo. Tamanha é a confusão
que Fontenele se recusou a assinar a rescisão antecipada de contrato de
experiência levada a ele. O documento foi assinado pelo coordenador de
Obrigações Trabalhistas da Geap, Daniel Leonardo da Rocha Mendes, e outras duas
testemunhas.
Os problemas da Geap Saúde não param por aí. Apoiadores de
Fontenele acusam Novais de perseguição. O presidente substituto do colegiado
possui um cargo comissionado na assessoria parlamentar do Ministério da Saúde e
foi candidato a deputado estadual pelo PSB na Bahia em 2014. Ele chegou ao
posto após o presidente do conselho, Marcus Vinícius Severo de Souza Pereira,
solicitar afastamento após denúncias contra ele chegarem à Geap.
Fala bombástica
Em nota, a Geap Saúde destacou que a decisão de afastar
Fontenele foi tomada diante das declarações do executivo, que acusou médicos e
hospitais de roubarem planos de saúde. As acusações tiveram forte repercussão
negativa no setor. “A Geap sempre norteou sua relação com beneficiários,
médicos e prestadores através da ética, transparência e profissionalismo. E
assim continuará”, informou o comunicado. Procurado, Fontenele não se
manifestou até o fechamento desta edição.
Por Antonio Temóteo