Jornal Extra
- 25/08/2019
As recentes ameaças de intervenção de Jair Bolsonaro em
órgãos de controle e investigação, como Receita Federal, Conselho de Controle
de Atividades Financeiras (Coaf) e Polícia Federal (PF), geraram mal-estar e
desconfiança em categorias profissionais que antes viam com simpatia o governo
federal, além de pôr em xeque o futuro da Operação Lava Jato. Entre as reações
de integrantes dos órgãos, houve desde a ameaça de renúncia coletiva das
chefias até a deflagração de um “contra-ataque”, em que técnicos do segundo
escalão da Receita ameaçaram interromper serviços como a emissão de CPF e
restituição do Imposto de Renda.
Na Medida Provisória que transferiu o Coaf do Ministério da
Economia ao Banco Central, na última segunda-feira, Bolsonaro abriu espaço para
indicações políticas em um conselho deliberativo. Na Receita, em que diz ser
alvo pessoal de “devassa”, sugeriu uma troca. Na PF, disse que Ricardo Saadi,
superintendente do Rio de Janeiro, seria trocado por uma questão de
“produtividade”.
A PF do Rio conduz a Operação Furna da Onça para apurar
desvios na Assembleia Legislativa do estado. Um dos gabinetes suspeitos de
desviar salário de servidores é do hoje senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ),
filho do presidente. A investigação está suspensa por ordem do presidente do
Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.
Apesar de Saadi não ter atuado no caso, aliados do
presidente admitem que Bolsonaro o via com maus olhos por não ter agido para
diminuir a exposição de seu fil ho.
Os disparos de Bolsonaro contra os órgãos de controle
atingiram em cheio o ministro da Justiça Sergio Moro. O presidente afirmou a
jornalistas que poderia trocar não só o superintendente do Rio, como também o
diretor-geral, Maurício Valeixo, indicado por Moro para o cargo em razão de sua
atuação na Lava-Jato. Pessoas próximas a Moro o aconselharam até a renunciar,
informou a colunista Bela Megale, do jornal O Globo.
A interlocutores, o ministro tem dito que conversou com o
presidente, que lhe assegurou de que a relação entre os dois está firme.
Críticas de procurador da Lava-Jato
A atitude de Bolsonaro também suscitou críticas no
procurador da Força-Tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, que afirmou em
entrevista ao jornal Gazeta do Povo que o presidente se apropriou da pauta
anticorrupção durante a campanha, mas, agora, se distancia dela. “Ele coloca em
segundo plano essa pauta quando faz mudanças no...