terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O vale-tudo da recolocação

Autor(es): » Renata Mariz
Correio Braziliense - 01/02/2011

Funcionários de parlamentares que não se reelegeram correm contra o tempo para conseguir um emprego na nova legislatura
 
Em meio aos preparativos para a posse dos novos parlamentares, a maior ansiedade fica por conta dos servidores comissionados que, a partir de hoje, estão oficialmente sem emprego. Eles trabalhavam para deputados ou senadores que deixaram o Congresso porque não se reelegeram, ocuparão outro cargo fora do Legislativo federal ou nem disputaram as eleições. Na Câmara dos Deputados, onde 224 dos 514 parlamentares estão saindo, José Estevam Nascimento Neto inovou no marketing. Motorista há 16 anos de um deputado paranaense que não conseguiu renovar o mandato, ele fincou uma faixa no estacionamento por onde entram os carros oficiais no Anexo 4. “Já recebi ligação de dois deputados, mas ainda não fechamos nada”, conta o mineiro de Uberaba.

Ainda não se sabe, segundo informou a Direção-Geral da Câmara, quantos comissionados serão exonerados. Mas, de acordo com o setor, o número pode chegar a 5 mil servidores — cerca de 45% do total de quase 11 mil funcionários nomeados temporariamente pelos parlamentares da legislatura que acabou ontem. Para Estevam, sua vantagem é conhecer os meandros da Casa e também dos ministérios na Esplanada. “Eu acompanhava as pessoas que vinham das prefeituras, ajudava, fazia um trabalho mesmo de assessor”, conta o motorista de 49 anos. Segundo ele, a maior dificuldade para fechar um novo emprego é o salário oferecido pelos deputados que estão chegando. “Eles não sabem do custo de vida daqui”, diz.

Deborah de Pina recorreu a técnica menos audaciosa que Estevam. Decidiu, enquanto encontrava um ou outro colega, chorando no ombro de alguns deles, entregar currículos. Nos últimos 22 anos como funcionária comissionada da Casa, chegou a ser chefe de gabinete e, admite, é o que mais sabe fazer na vida. “O último deputado com quem eu trabalhei, o Sílvio Lopes, não quis tentar a reeleição, cansou mesmo da vida política.

Então, agora a gente se sente meio órfão”, diz Deborah. Ela lamenta o fato de, depois de tanto tempo trabalhando, não ter direito a uma indenização. Com o único filho, de 27 anos, desempregado, Deborah aposta todas as fichas no corpo a corpo. “Estou aqui desde 4 de janeiro, não posso sossegar enquanto não conseguir uma recolocação. Mas as contas que temos de pagar não esperam”, brinca.

Muitos comissionados se valem da amizade dos patrões que estão saindo com os parlamentares que estão chegando na hora de conseguir renovar o emprego. Para Aderaldo Ribeiro, foi assim. Com 10 anos de Câmara, dos quais boa parte trabalhando para um deputado paraense, ele já está alocado em um novo gabinete para continuar na Câmara.

“Toda mudança de legislatura é assim, os servidores ficam tensos com a perda do emprego”, diz o rapaz, enquanto arruma a sala da nova patroa. No Senado Federal, onde 37 parlamentares deixaram os cargos oficialmente a partir de hoje, também haverá exonerações entre os 1.985 servidores comissionados. O número exato, de acordo com a Secretaria de Comunicação, ainda é incerto.


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