sábado, 13 de agosto de 2011

O futuro afeta o presente na fixação dos salários


O Estado de S. Paulo     -     13/08/2011
                                                          



A atual conjuntura mundial convenceu o governo brasileiro de que, malgrado o aumento das suas receitas, se deve dar prioridade ao corte das despesas, especialmente da máquina administrativa, para colocar o País em posição em que possa enfrentar o quadro com maior tranquilidade.

A preocupação adquire maior dimensão ao verificar-se que uma das condições para encarar a tempestade internacional será, talvez, a redução da taxa básica de juros - isso quando as pressões inflacionárias, que pareciam menores, dão sinais de uma nova onda de aumento.

Se for necessário recuar na aplicação de uma política monetária, que tem a vantagem de afetar todos os setores da economia, é absolutamente indispensável reduzir o impacto dos gastos públicos sobre o poder aquisitivo dos consumidores, o que exige dar prioridade à contenção dos gastos com pessoal da administração. Gastos que no primeiro semestre acusaram aumento de 11,3% em relação ao primeiro semestre de 2010, quando haviam crescido apenas 8,4%.

Mas, ao mesmo tempo que o governo está tomando consciência dessa necessidade, ele enfrenta pleitos de aumentos salariais descabidos do Poder Judiciário, assim como dos bombeiros e da Polícia.

Aliás, é o mesmo período de safra dos dissídios das grandes categorias dos sindicatos, que, aproveitando-se de uma situação de pleno emprego, estão pleiteando reajustes muito acima dos ganhos de produtividade.

No quadro de uma economia próspera, pode-se bem explicar essa evolução da luta por uma melhoria dos salários. No entanto, ela não seria tão firme diante da incerteza sobre a conjuntura internacional, se não fosse o efeito previsto para 2012 da legislação relativa ao salário mínimo.

Estamos diante de uma situação muito estranha, em que uma decisão relativa ao futuro (2012) exerce já uma profunda influência sobre o presente. Foi estabelecido que no próximo ano o reajuste do salário mínimo seja calculado com base no crescimento do PIB em 2010 (7,5%), acrescido da taxa de inflação de 2011. Isto é, que na melhor das hipóteses o reajuste será de 13,5%, atingindo não apenas o salário mínimo, como também os gastos da Previdência vinculados a ele. A previsão desse reajuste é hoje a base para as reivindicações dos sindicatos, que, em face do bom resultado das empresas, pedem um reajuste em razão da inflação e também uma participação nos lucros. O que não se entende é a prefixação do mínimo com um ano de antecedência, num clima de tanta incerteza.



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