Regina Alvarez
O Globo - 10/02/2012
Projeto de criação do fundo esbarra na insatisfação do
presidente da Câmara e dos líderes da base aliada do governo
BRASÍLIA - A combinação de dois problemas políticos sepultou
as chances de votação do projeto que cria o Fundo de Previdência dos Servidores
Públicos (Funpresp) na Câmara antes do carnaval.
Além da queda de braço do presidente da Casa, Marco Maia
(PT-SP), com o Planalto por cargos no governo, há uma insatisfação generalizada
dos líderes da base com o volume e o ritmo de liberação de emendas
parlamentares ao Orçamento da União.
Em reunião com a ministra de Relações Institucionais, Ideli
Salvatti, ontem pela manhã, os líderes reclamaram que o acordo fechado no ano
passado não foi cumprido. E receberam a informação de que alguns ministérios
desviaram recursos reservados às emendas para outros fins.
Os ministérios do Turismo, do Esporte, das Cidades e da
Integração Nacional receberam da Secretaria de Relações Institucionais (SRI)
uma lista com as demandas dos aliados para o empenho (contratação) das emendas
e a orientação para atendêlos, mas teriam ignorado esse comando, comprometendo
os recursos com outras despesas.
O descumprimento do acordo deixou os líderes sem condições
de garantir a fidelidade de suas bancadas na votação do Funpresp.
A ministra prometeu apresentar uma solução para o problema
na próxima semana.
— Houve um desvio de recursos (nos ministérios). O
compromisso conosco era empenhar R$ 76 milhões, mas foram só R$ 21 milhões.
Estão tentando solucionar, mas há um risco de contaminar a votação (do fundo) —
disse o líder do PTB na Câmara, Jovair Arantes (GO).
A crise em torno da votação do Funpresp ficou explícita na
quarta- feira, quando Maia, ignorando orientação do Planalto, encerrou a sessão
na Câmara abruptamente, surpreendendo até mesmo líderes governistas. Ontem, ele
tentou justificar sua postura. Negou qualquer crise com o governo e rebateu
rumores de que a decisão tenha sido motivada por seu descontentamento com
mudanças feitas na diretoria do Banco do Brasil, que teriam atingido um de seus
afilhados: — Vocês sabem que eu tenho conduzido a Câmara da forma mais aberta e
democrática possível.
Escuto os líderes, procuro compor todas as votações. Mas não
me submeto às pressões, nem do governo nem da oposição.
A definição da pauta e a forma como é conduzida a sessão são
decisões do presidente da Câmara, que eu tomo de acordo com as minhas
convicções e com o que acho importante. (...) Não sou obrigado a acatar em
todos os momentos o governo .
A atitude de Maia deixou a presidente Dilma Rousseff muito
irritada.
Especialmente com a informação de que ele fechara um acordo
com os líderes da oposição para votar o Funpresp só depois do carnaval.
— Não era prudente levarmos à votação, no primeiro dia de
trabalho da Câmara, até 3h ou 4h da manhã — disse Maia.