O Globo - 23/07/2012
BRASÍLIA - Especialistas em contas públicas ouvidos pelo
GLOBO dizem que o desafio da presidente Dilma Rousseff é continuar segurando o
aumento das despesas com funcionalismo, para se precaver dos reflexos da crise
econômica que deverão ser mais rigorosos em 2013. Lembram que Dilma conseguiu
conter os aumentos em 2012, mantendo estável o gasto, mas poderá comprometer as
metas fiscais de 2013, caso ceda às pressões dos servidores.
Especialista em finanças públicas, o economista Felipe
Salto, da Tendências Consultoria, destacou que no governo Lula o crescimento
das despesas com pessoal ficou em torno de 8% a 9%, em termos reais (descontada
a inflação), movimento que Dilma "segurou". Alertou que a crise
econômica deste ano deve se refletir em 2013, com queda na arrecadação.
- O governo vai conseguir cumprir a meta fiscal em 2012
porque segurou os reajustes e algumas despesas no caixa. Mas, para 2013, é o
grande problema. Já há uma desaceleração das receitas (arrecadação de impostos)
e pressões por reajustes. O governo Dilma conseguiu empurrar essa questão, mas
será que vai conseguir mais uma vez? - indaga Felipe Salto, suspeitando que o
governo não deverá cumprir a meta de superávit no ano que vem: - Deve ficar em
2,6% do PIB e não em 3,1%.
Na mesma direção, o economista Raul Velloso fez um estudo
mostrando que o governo Lula contratou mais servidores, fazendo o número de
vagas voltar aos patamares de 1995, quando o ex-presidente Fernando Henrique
assumiu. Segundo esse levantamento, o governo FH não repôs as vagas abertas com
aposentadorias.
- No governo Fernando Henrique, o ganho real foi de 22% e,
no governo Lula, de 39%. Ou seja, de 1995 para cá, foram quase 70%. Ninguém
pode chiar. No governo Dilma, ficou estável. As despesas com pessoal são o
segundo gasto do governo, atrás apenas da Previdência e não há uma política.
Essa questão evolui de forma errática - disse Velloso.
Várias categorias do funcionalismo público estão em greve.
Em Brasília, estão parados servidores dos ministérios da Justiça, da Saúde, do
Trabalho, da Previdência Social, da Integração Nacional, da Agricultura, do
Desenvolvimento Agrário, do Incra, da Funai, da Funasa e do Arquivo Nacional.
Nos estados, Funai e Incra são os órgãos mais atingidos pela paralisação. Os
professores das universidades federais estão há mais de dois meses sem
trabalhar. Anteontem, o sindicato da categoria, o Andes, divulgou nota
informando que assembleias rejeitaram proposta de reajuste feita pelo governo.
Está previsa para hoje nova rodada de negociações no Ministério do
Planejamento.