Agência Senado
- 18/10/2012
A possibilidade de extensão da política de cotas ao serviço
público federal repercute entre os senadores, que se dividem entre opiniões de
aberto entusiasmo, crítica ou cautela em relação à ideia. Pelas notícias
divulgadas, o governo quer enviar um projeto ao Congresso Nacional sugerindo a
adoção de cota racial para preenchimento de vagas por concurso e também para os
cargos de confiança.
Em exame na Casa Civil, a proposta deve ser enviada ao
Congresso até novembro, conforme registros na imprensa. O texto básico
elaborado pela Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir)
define a reserva de 30% das vagas para negros.
- Só posso ver com bons olhos uma iniciativa destinada a
promover o acesso de negros, pardos e índios a posições na esfera pública, onde
estão claramente subrepresentados. Isso é fundamental para a construção de uma
sociedade mais igualitária e democrática – afirm Paulo Paim (PT-RS).
Autor do Estatuto da Igualdade Racial, aprovado há dois
anos, Paim observou que o projeto original previa amplo leque de ações
afirmativas, inclusive as cotas para as universidades e o serviço público. Mas
prevaleceu a avaliação de que o debate ainda não estava maduro, o que
determinou a supressão das cotas do texto para viabilizar a aprovação da matéria.
Em agosto último, passados pouco mais de dois anos da
aprovação do estatuto, o Senado aprovou e seguiu para sanção o projeto, já
tornado lei, que reserva pelo menos metade das vagas nas universidades e
institutos federais para alunos de escolas públicas, com subcotas por critério
de raça e renda. Para Paim, houve uma evolução que, a seu ver, deve se refletir
agora no acolhimento do cogitado projeto de cotas para o serviço público.
Cunho eleitoral
O líder do PSDB, senador Alvaro Dias (PSDB-PR), no entanto,
desaprova totalmente a ideia, a seu ver uma medida que subestima os negros e
que, por isso, seria preconceituosa. Em sua opinião, o critério de competência
deve sempre prevalecer nos concursos. À mídia, ele afirmou ainda que a notícia
às vésperas do segundo turno das eleições revela intenções eleitorais. Disse
que com isso o governo pretende beneficiar os candidatos do PT.
Sem posição fechada, o senador Romero Jucá (PMDB-RR)
reconhece que qualquer proposta sobre cotas no serviço público renderá
polêmica, mas precisa ser debatida pelo Congresso. Ao mesmo tempo em que elogia
a lei de cotas paras as universidades federais, regulamentada esta semana, Ricardo
Ferraço (PMDB-ES) afirma que é necessário pensar um pouco mais sobre a extensão
da política aos cargos públicos.
- Não formei ainda um juízo de valor, mas esse é um tema
relevante e espero poder fazer uma avaliação criteriosa para me posicionar mais
à frente – diz Ferraço.
Já a senadora Ana Rita (PT-ES) acolhe sem reservas a
concepção de uma lei para estender as cotas ao serviço público. Feliz com a
regulamentação das cotas para as universidades e institutos federais, tema em
que esteve engajada como relatora em uma das comissões do Senado, ela torce
para que o governo concretize a ideia de enviar ao Congresso o projeto para os
cargos públicos.
- Será um avanço no curso histórico da luta pelas ações
afirmativas no país – avaliou.
Pioneirismo
Para Roberto Requião (PMDB-PR), as cotas expressam um novo
momento no processo civilizatório brasileiro. Conforme diz, as insatisfações só
prosperam entre os “herdeiros da casa-grande”. No serviço público, ele salienta
que já existe uma experiência pioneira no país: uma lei sancionada em 2003,
quando ele governava o Paraná, que instituiu reserva para afrodescendentes de
10% das vagas em todos os concursos públicos no estado.
- Vamos chegar ao dia em que as cotas serão desnecessárias,
mas até lá as diferenças precisam ser liquidadas, pela inclusão definitiva –
afirmou.
Sérgio Souza, outro peemedebista da bancada do Paraná, que
também se inclina a favor das ações afirmativas, desde já declara voto
favorável a uma possível proposta de cotas para ingresso no serviço público.
Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) também disse ser a favor de toda política que
promova a redução dos antagonismos sociais, inclusive para os cargos públicos.
- As diferenças sociais não são produtos do acaso, e sim
reprodução de situações de desigualdades determinadas por uma estrutura social
injusta. Espero que as cotas se convertam numa porta aberta para construção de
uma sociedade mais igual – defendeu.