Juliana Colares
Correio Braziliense - 22/02/2013
Funcionários do
Ministério das Relações Exteriores promovem ato contra abusos e ameaçam
paralisação em todas as embaixadas
Denúncias de assédio moral levaram cerca de 100 servidores
do Ministério das Relações Exteriores (MRE) a protestar, na tarde de ontem, em
frente à sede da pasta. Com um megafone e cartazes, manifestantes de terno e
scarpin gritavam palavras de ordem: “Chega de assédio moral no Itamaraty”.
O
protesto não era direcionado a um único alvo, mas tinha no cônsul-geral do
Brasil em Sydney, Américo Dyott Fontenelle, o principal foco. O embaixador foi
denunciado por assédio moral contra servidores efetivos e funcionários do
Consulado-Geral do Brasil na cidade australiana e está sendo investigado pelo
MRE.
Acusações similares foram feitas contra ele também em 2007, quando ocupava
o cargo de cônsul-geral do Brasil em Toronto e foi denunciado por supostos atos
de discriminação, uso de palavreado de baixo calão e comportamentos
humilhantes. Os servidores do ministério ameaçam paralisação de um dia em todas
as embaixadas e consulados do mundo. O ato será decidido em assembleia na
próxima semana.
O Correio entrou em contato com Georges Bouret Cunningham
Junior, ex-funcionário do consulado brasileiro em Toronto e autor das primeiras
denúncias contra Fontenelle. Em julho de 2007, ele enviou uma carta ao então
presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, pedindo “providências
urgentes” em relação às acusações de assédios moral e sexual, além de
homofobia.
No documento, Georges afirma que o cônsul ameaçava os funcionários
de demissão com gritos e gestos, usava expressões discriminatórias, tratava
subordinados com palavrões e insultos públicos e fazia “comentários sexuais
embaraçosos”. Georges contou que chegou a ficar cinco semanas em licença
médica. Uma sindicância foi instaurada pela Corregedoria do Serviço Exterior.
Em portaria de agosto daquele ano, o então corregedor,
Heraldo Arruda, afirmou que, “apesar de ter havido elementos testemunhais
relevantes, permaneceram dúvidas razoáveis sobre a efetiva ocorrência dos
fatos”. A sindicância foi arquivada e Fontenelle “recomendado” a se empenhar
“no sentido de reverter o clima de mal-estar” constatado. “Denunciei o
embaixador e, após a comissão de inquérito, ele continuou a me perseguir. Pedi
demissão um mês depois”, contou Georges ao Correio.
Segundo o Sindicato Nacional dos Servidores do MRE
(Sinditamaraty), três denúncias de assédio moral foram feitas entre 2012 e
2013. A última é de um servidor de chancelaria e dois funcionários locais que
atuam em Sydney, também contra Fontenelle, com acusações de assédio moral. A
assessoria de imprensa do MRE informou que o ministério recebeu duas denúncias
e enviou um funcionário diplomático à Austrália no último dia 13 para apurar os
fatos.
A Comissão de Ética do ministério pode abrir um Processo de Apuração
Ética. As possíveis punições vão de advertência a exoneração. O Correio enviou
e-mail ao consulado do Brasil em Sydney pedindo um posicionamento do cônsul
sobre o assunto, mas não obteve resposta até o fechamento desta edição.