R7 - 29/03/2015
Os bancos têm interesse no leilão da folha de pagamento do
funcionalismo público federal, mas querem um modelo diferente do que vem sendo
pensado pela União. Desde que o Estado antecipou a decisão do governo federal
de vender a folha de pagamento como estratégia para aumentar a arrecadação, os
bancos têm tratado o tema com discrição, mas avaliam, nos bastidores, como
influenciar na definição do modelo de licitação.
A reportagem procurou as maiores instituições financeiras,
que confirmaram o interesse em administrar a folha dos servidores federais, mas
ponderaram que o momento econômico atual e as mudanças na legislação que
facilitaram a portabilidade das contas causam impacto no modelo do negócio.
Executivos dos bancos só aceitaram falar sem que fossem identificados para não
explicitar as estratégias de cada instituição.
Os bancos querem que o governo adote um sistema semelhante
ao das Forças Armadas, pelo qual remuneram mensalmente por cada cliente que
mantiveram, de fato, a conta no banco, em vez de pagar antecipadamente pela
gestão da folha. Nesse modelo, uma instituição financeira não recebe sozinha a
administração de todas as contas. Cada um dos bancos remunera as Forças Armadas
por mês pela fidelidade de cada um dos clientes (R$ 15) que manteve a conta. O
modelo amplia a competição bancária e respeita a liberdade de escolha do
servidor.
Além disso, segundo um executivo, os bancos evitam
desembolsar de uma vez só um valor elevado pelo direito de gerenciar as contas
sem a garantia de que os clientes continuarão fiéis, pelo prazo do contrato, à
instituição. Já o governo tem interesse em vender esse ativo para ampliar as
receitas e ajudar no cumprimento da meta fiscal - estipulada em 1,2% do Produto
Interno Bruto (PIB) em 2015.
A equipe econômica quer vender a folha dos servidores do
Executivo em lotes de funcionários, como foi feito pelo Instituto Nacional do
Seguro Social (INSS), que movimenta 24 milhões de benefícios - cerca de R$ 12
bilhões mensais. A licitação que está sendo preparada pelo governo, e deve sair
ainda este ano, envolve a venda do direito de os bancos administrarem o
pagamento dos salários de 500 mil servidores do Executivo - a operação
movimenta cerca de R$ 20 bilhões por mês.
Atualmente, os servidores podem escolher em qual banco
querem receber, mas as instituições financeiras não pagam nada ao governo por
ter a conta desses servidores. Os bancos privados afirmam que o modelo de
negócios tem de levar em conta, além da portabilidade, a rede de agências que
os concorrentes públicos possuem nos órgãos. "É pagar uma bolada para
dormir com o inimigo", resumiu um dirigente.
Já os públicos afirmam que detêm a maior parte dessas contas
e, por isso, não estariam dispostos a desembolsar volume elevado para manter os
correntistas. Enfim, os maiores bancos do País acham precipitada e elevada
qualquer estimativa do valor do negócio antes que a modelagem esteja debatida.
Por outro lado, fontes do governo afirmam que, mesmo com a
portabilidade, o negócio continua muito atrativo, principalmente no cenário
atual, de menor demanda por crédito. Além disso, a inadimplência de empréstimos
com desconto em folha para servidores públicos é a menor do mercado.
(Estadão Conteúdo)