terça-feira, 4 de agosto de 2015

Redução de ministérios: 39 Pastas e 600 mil servidores não melhoraram serviços públicos


Dyelle Menezes
Contas Abertas     -     04/08/2015




As diferenças entre Dilma Rousseff candidata e presidente não param de aparecer. No olho do furacão da crise econômica, a governante passou a cogitar a redução de ministérios como medida de austeridade. A reforma, ainda que proposta pelos presidentes da Câmara e do Senado, vai acirrar a disputa por cargos no alto escalão, que devem ser dominados pelo PMDB. A máquina pública cresceu assustadoramente nos últimos anos, porém, a qualidade do gasto e dos serviços não melhoraram.

Atualmente, o Poder Executivo possui 39 ministérios com orçamento de R$ 2,8 trilhões em 2015. Para fazer a administração funcionar cerca de 616 mil servidores civis ativos trabalham em órgãos, autarquias e fundações. Ainda que a relação das despesas com pessoal e encargos com o PIB tenham caído de 5,03% (2002) para 4,31% (2014), nos últimos 13 anos ingressaram na administração pública quase 130 mil servidores. Junto com os novos funcionários também cresceram as funções comissionadas: na estrutura administrativa do Poder Executivo existem quase 100 mil cargos, funções de confiança e gratificações. Nos últimos 13 anos, surgiram aproximadamente 31 mil novos benefícios. Somente os servidores DAS (Direção e Assessoramento Superior) aumentaram de 18.374 em 2002 para 22.559 em março de 2015. Para o cientista político, Antônio Flávio Testa, é preciso acabar com esse aparelhamento da administração pública.

 “Não adianta extinguir ou fundir ministérios, sem racionalizar os recursos e tornar mais efetiva a qualidade do gasto e dos serviços públicos. É apenas jogar os problemas de um lado para o outro”, explica. Testa afirma que, os cargos de confiança deveriam atender a um projeto de governo e não aos partidos, pois dessa forma os servidores e autoridades poderiam ser cobrados quanto aos resultados exigidos. “Nenhum presidente consegue governar com 39 ministérios. Alguns ministros nunca despacharam com a Dilma. Do que adianta, existir a instituição se não tem orçamento ou projetos? As secretarias, por exemplo, não possuem prestígio, não tem agenda, não tem nada”, ressalta o cientista político. Para o professor, a discussão está desfocada, apesar das mudanças serem necessárias. “O que está por traz da pauta da reforma ministerial é o fato do PMDB ter perdido poder no segundo mandato da Dilma.

 Com as mudanças, a presidente pode ser obrigada a entregar um grande ministério para o maior partido da base aliada. Isso é um jogo político absurdo”, aponta. Na ponta de caneta de Dilma para serem cortados, devem estar as secretarias de Portos, Aviação Civil e Assuntos Estratégicos, além da mais nova Pasta de Micro e Pequenas Empresas. O Gabinete da Segurança Institucional e o ministério da Pesca e Aquicultura também não devem escapar da extinção, ao menos poderão perder o status de órgão superior. Na estrutura da Presidência da República, também está a Secretaria de Relações Institucionais, que ainda existe com status ministerial, embora a função de titular do cargo esteja sendo desempenhada pelo vice-presidente, Michel Temer. De forma simplificada, na análise do Contas Abertas, os ministérios restantes podem ser divididos em seis grandes grupos: Estratégicos, Infraestrutura, Setores Econômicos, Sociais, Minorias e Emergentes. As Pastas serão redistribuídas junto aos partidos da base aliada, conforme diferentes interesses.

 Nas Pastas “estratégicas”, estão Planejamento, Justiça, Fazenda e órgãos diretamente relacionados à Presidência da República, como a Advocacia-Geral da União, Controladoria-Geral da União, Casa Civil, dentre outros. Alguns dessas atuais Pastas podem perder a condição de ministério. Pelo volume de recursos, os ministérios de “infraestrutura” despertam a atenção de partidos e políticos atrás de cargos e poder. Estão neste caso, Transportes, Minas e Energia, Comunicações, Integração Nacional e Cidades, que apresentam orçamento global de R$ 136,2 bilhões para 2015, sem incluir as empresas estatais vinculadas. Estas Pastas têm, para este ano, investimentos de R$ 44,8 bilhões , isto é, obras e aquisição de equipamentos por todo o país, visto que concentram empreendimentos do PAC. Se consideradas as estatais dos grupos Petrobras e Eletrobrás somente os investimentos somam R$ 94,4 bilhões. Os ministérios de Indústria e Comércio Exterior e Agricultura são vistos de perto pelos setores econômicos pela relevância para o crescimento econômico.

 A indústria precisa ser assistida, enquanto o setor agropecuário vai bem. O PIB de toda a economia brasileira apresentou queda de 0,2% na comparação do primeiro trimestre de 2015 contra o quarto de 2014. O setor agropecuário cresceu 4,7% e a indústria recuou 0,3%. As Pastas “sociais” são disputadas por apresentarem grande capilaridade e orçamentos gigantes. Os ministérios da Saúde, Educação, Combate à Fome, da Previdência Social e do Trabalho e Emprego reúnem 326,7 mil servidores e orçamento global de R$ 857,4 bilhões para este ano. Além das questões sociais, que ganharam ênfase na administração petista, outras pastas não devem ser tocadas. É caso das secretarias que com status ministerial abrangem as “minorias”, apoiadas pelos movimentos sociais que levaram a presidente Dilma ao segundo mandato. O segmento contém Igualdade Racial, Políticas para Mulheres e Direitos Humanos. Como já foi cogitado, podem ser reunidas em uma única Pasta. Na estratificação do Contas Abertas ainda estão os ministérios emergentes, como Esportes, Cultura, Meio Ambiente e Turismo que envolvem temas de enorme repercussão, sobretudo a realização da Olimpíada no próximo ano e as questões climáticas.

 Estas Pastas foram objeto de 1.384 emendas parlamentares, o que demonstra o interesse político nessas áreas. Assim sendo, é pouco provável que esses ministérios sejam suprimidos ou agregados. Alguns auxiliares da presidente, no entanto, divergem sobre o cenário e a ocasião do anúncio da reforma. No momento, o governo tenta pacificar a base, reduzir as tensões no Congresso Nacional, garantir a aprovação das medidas do ajuste fiscal e evitar a chamada pauta-bomba. Sob o ponto de vista aritmético, partidos da base aliada perderiam cargos e influência nas decisões do governo com o enxugamento da máquina.

 No primeiro mandato de Dilma, o Planalto já havia encomendado um estudo de redução de ministérios, mas com receios da repercussão entre movimentos sociais, a proposta não foi levada adiante. Prevaleceu a percepção de que secretarias como Direitos Humanos e Igualdade Racial carregavam importância simbólica, além de terem impacto irrisório na redução de custos. O ministro da Defesa, Jaques Wagner, em entrevista coletiva, disse que a redução de ministérios é uma preocupação constante de qualquer governo e deste. “Mas hoje realmente não teve nenhuma discussão objetiva sobre Pasta A ou B, fusão dessa com aquela. Sempre que você puder, sem prejuízo político, fazer redução de custos, acho que é sempre bem-vinda”, concluiu Wagner.

 Discurso diferente 

O corte de ministérios é uma mudança de posição da presidente. A proposta era defendida pelo candidato tucano Aécio Neves (MG), na campanha presidencial do ano passado. Em junho, Dilma sinalizou a intenção de ter um primeiro escalão mais enxuto. “Cada ministro tem um papel. Criticam muito porque nós temos muitos ministérios. Acho que teremos de ter menos ministérios no futuro”, reconheceu. A redução de pastas é cobrada publicamente pelos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), como gesto do governo num contexto em que tenta aprovar uma série de propostas impopulares no Congresso, que aumentam impostos e restringem o acesso a benefícios. Os dois foram os principais articuladores de derrotas do Planalto no primeiro semestre.


Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra