Revista ISTOÉ
- 28/04/2017
As negociações para aprovação da reforma da Previdência
estão esbarrando em discussões que envolvem tanto questões do próprio projeto,
como a idade mínima estipulada para aposentadoria dos servidores públicos, como
outras totalmente diversas da reforma, como o impasse em torno da cobrança da
contribuição ao Fundo de Assistência ao Trabalhador Rural (Funrural). O tributo
é, para o setor rural, o equivalente à contribuição à Previdência.
Atualmente, uma queda de braço entre o governo e a bancada
ruralista está contaminando as negociações e é mais um entrave às para
aprovação do projeto. Os ruralistas querem acabar com a forma atual de cobrança
do Funrural, em troca do apoio à reforma. Os parlamentares também querem o
perdão da dívida passada – um passivo que pode superar R$ 10 bilhões, segundo
apurou o Broadcast, serviço de notícias em tempo real do Grupo Estado.
A discussão sobre a cobrança do Funrural voltou à tona após
o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar, no fim de março, constitucional a
cobrança do fundo do empregador rural pessoa física. A contribuição social de
2,6% sobre a receita bruta da comercialização de produtos agrícolas estava
sendo questionada na Corte, o que fez com que muitos contribuintes deixassem de
recolher o imposto, gerando um grande passivo.
“A turma agrícola começou a fazer enorme barulho. O Funrural
que eles perderam no STF está contaminado a discussão”, disse uma fonte do
governo.
A bancada ruralista é hoje uma das maiores forças de pressão
no Congresso. “Temos mais de 70 votos fechados com as nossas causas, o que nos
coloca como uma das principais bancadas na Câmara”, diz Marcos Montes (PSD/MG),
ex-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA). O cálculo do
Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar indica um número de
representantes ainda maior entre os ruralistas: 109 deputados.
O presidente Michel Temer entrou pessoalmente em campo para
tentar um acordo. Ele comandou uma reunião ontem com lideranças do setor,
parlamentares da FPA, o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e secretário
da Receita, Jorge Rachid. O atual presidente da FPA, deputado Nilson Leitão
(PSDB-MT), disse que propôs ao presidente que acabe com o Funrural e crie uma
nova contribuição social ao empregador rural pessoa física. Segundo o tucano, a
proposta da FPA é para que essa contribuição seja de 1% sobre a folha de
pagamento ou receita bruta do empregador.
Servidores
Além da pressão dos ruralistas, também está em negociação a
mudança da regra de transição para funcionários públicos que não aceitam ter de
alcançar a idade mínima de 65 anos (homem) e 62 anos (mulher) para terem a
integralidade do salário na aposentadoria. “Esses dois pontos (Funrural e
servidores) estão sob intenso lobby”, admitiu uma fonte da área econômica. As
informações são do jornal O Estado de S. Paulo.