Correio Braziliense - 17/04/2012
Risco de nova
anulação
A Polícia Federal investiga se houve violação de um malote
de provas no domingo passado. Organizadora da seleção, a FGV admite que a
embalagem estava rompida, mas garante que não houve interferência intencional.
O Ministério Público já analisa 16 denúncias contra o certame.
Polícia Federal espera resultado da perícia para saber se
envelope de prova do Senado foi violado intencionalmente
Mais uma denúncia de fraude ameaça o concurso do Senado. A
violação de um malote de provas de uma das salas em que foram aplicados os
testes para os cargos de enfermagem, analista de sistemas e analista de suporte
de sistemas na tarde do último domingo coloca em risco o processo seletivo, que
já foi adiado uma vez, há cerca de um mês, para as três áreas. O envelope
rompido foi recolhido pela Polícia Federal (PF) e enviado ao Instituto Nacional
de Criminalística. O resultado da perícia deve definir se haverá ou não
abertura de um inquérito policial.
De acordo com a assessoria de imprensa da PF, o laudo será
encaminhado ao Ministério Público e ao Senado, para que a casa tenha
conhecimento da possível fraude. A Fundação Getulio Vargas (FGV), oganizadora
do concurso, confirmou que o malote estava rompido, mas considera a
possibilidade de que o rasgo tenha sido provocado pelo estouro de uma bolha de
ar que se formou dentro do pacote, e não pela intervenção intencional de algum
candidato ou do pessoal de apoio. De acordo com a FGV, assim que foi constatada
a violação, a própria fundação acionou a Polícia Federal.
Ocorrência
Um dos candidatos, acompanhado de cinco outras testemunhas
que estavam na sala onde houve o problema, chegou a registrar ocorrência na
noite de domingo na 1ª Delegacia de Polícia Civil, na Asa Sul. De acordo com o
registro, o malote violado teria sido
entregue na sala T07 do Centro Universitário do Distrito
Federal (UDF), na Asa Sul, local onde 3,6 mil pessoas fizeram prova em
Brasília.
Segundo os concorrentes, o malote tinha um rasgo grande,
provavelmente feito por um objeto pontiagudo. Os candidatos só receberam novas
provas 40 minutos após o início da seleção, às 15h. A folha de respostas teve
que ser preenchida manualmente pelos fiscais. Para que não fossem prejudicados,
os concorrentes que estavam na sala tiveram mais 40 minutos para realizar o
teste, podendo sair às 21h10 do local de prova. O delegado adjunto da 1ª DP,
Johnson Monteiro, explicou que a ocorrência também deve ser encaminhada à PF.
"Cabe à Polícia Federal investigar se o malote foi mesmo violado e se a
prova foi reproduzida ilegalmente", afirmou.
Desconfiança
No fim da seleção do último domingo, o clima entre os
candidatos era de alívio e insegurança. Os inscritos nos três cargos refizeram
os testes após terem as provas canceladas por conta de uma falha no sistema há
cerca de um mês, que levou vários inscritos a receberem provas trocadas por não
haver testes suficientes para todos os concorrentes. "Sempre fica o medo
de algo acontecer e termos que fazer a prova mais uma vez", disse o
servidor Rodrigo Moreira, 33 anos, que concorre ao cargo de analista de
sistemas.
A polêmica persegue o concorrido processo seletivo para os
cargos do Senado — com salários de até R$ 23,8 mil — desde o início da
elaboração. A mais grave foi a expulsão de uma integrante da Comissão
Organizadora do processo seletivo: a servidora Lúcia Maria Medeiros de Souza,
que se inscreveu para concorrer a uma das vagas. Após a realização das provas,
no dia 11 de março, a indignação dos candidatos se deu, principalmente, em
razão da clonagem de questões, por parte da FGV, de certames de outras bancas
para diferentes órgãos.
O Ministério Público Federal (MPF) no Distrito Federal
divulgou, há duas semanas, que analisa 16 denúncias diferentes feitas por
candidatos que colocam em xeque a credibilidade do certame. Dois inquéritos já
foram instaurados pela Polícia Federal, que investiga, além de fraudes no
processo de aplicação da prova, a dispensa de licitação para a contratação da
banca organizadora.
Problemas na Caixa
A polêmica com malotes violados também atingiu o concurso
para o preenchimento de vagas de nível superior da Caixa Econômica Federal
realizado no último domingo. A confusão aconteceu em Vitória (ES), em uma das
salas da Faculdade de Administração Espírito-Santense (Faesa), onde 35 pessoas
se recusaram a fazer as provas. A Polícia Federal foi acionada pelos próprios
candidatos. Em nota, a Fundação Cesgranrio, organizadora do concurso, reconhece
que o pacote foi rompido, mas alega que o corte ocorreu no momento em que os
fiscais abriam, com um estilete, os lacres que protegem os malotes.
A seleção
reuniu 69.958 candidatos aos cargos de cadastro de reserva para advogado,
arquiteto e engenheiro agrônomo, civil, elétrico e mecânico, com salários de
até R$ 7.734.