Agência Câmara Notícias
- 20/02/2014
O senador Romero Jucá (PMDB-RR), relator da proposta de
regulamentação do direito de greve dos servidores públicos, admitiu, nesta
quinta-feira, que poderá incluir a negociação coletiva no texto final do
projeto de lei.
A adoção de mecanismos que permitam o diálogo prévio entre
sindicatos e governos, quanto a salários e condições de trabalho, foi uma das
reivindicações apresentadas por oito centrais sindicais, nesta quinta-feira, em
audiência pública da Comissão Mista de Consolidação da Legislação Federal.
Deputados e senadores desse colegiado tentam regulamentar o
direito de greve do funcionalismo público, previsto na Constituição. Um
anteprojeto já foi elaborado, mas recebeu fortes críticas dos sindicalistas.
Convenção da OIT
Flávio Werneck, representante da Central dos Sindicatos
Brasileiros (CSB), afirmou que a categoria exige que a regulamentação do
direito de greve obedeça à Convenção 151 da Organização Internacional do
Trabalho (OIT) e venha acompanhada de mecanismos para a negociação coletiva e a
reposição de perdas salariais.
"Na iniciativa privada, temos a negociação coletiva, a
data-base e, se houver algum problema, o dissídio”, explica Werneck. “No
funcionalismo público, o que temos é greve para iniciar uma negociação;
marca-se reunião para se marcar outra reunião e se impor índices e valores aos
servidores públicos. É isso que ocorre hoje na pseudonegociação com servidores
públicos."
Ampliar a abordagem
O senador Romero Jucá ressaltou que o foco dos parlamentares
é mesmo o direito de greve, que aguarda regulamentação há 25 anos. No entanto,
Jucá admite ampliar a abordagem da proposta: "Na evolução dessa discussão,
vou tentar fazer um contorcionismo legislativo para tentar inserir, na questão
do direito de greve, outros dispositivos como a negociação, a data-base e
outras questões".
"É tentar ver se é possível trazer para a
regulamentação do direito de greve uma forma de definir alguns procedimentos de
negociação que evitem a greve. No setor público, muitas vezes é a greve que
inicia o processo negociação”, destacou Jucá.
“Se a gente tiver um outro processo de negociação que evite
a greve, a gente estará evitando problemas para a sociedade”, acrescentou o senador.
“A greve no setor público não atinge o empresário nem o lucro de empresa.
Atinge a sociedade com a ausência da prestação do serviço de qualidade e a
gente quer evitar isso."
Manutenção do trabalho
As centrais sindicais avaliam que vários pontos do
anteprojeto inibem o direito de greve do funcionalismo público. Um deles é o
que exige a manutenção do trabalho de, pelo menos, metade do efetivo de
trabalho em caso de greve. Na área de segurança de pública, 80% dos servidores
devem continuar trabalhando.
Maria Costa, da Central Única dos Trabalhadores (CUT),
protestou: "Isso não é fazer greve. Isso é proibir greve. Nós não podemos
aceitar esse atropelo. A CUT declara que não tem acordo com o conteúdo
colocado".
Autonomia dos sindicatos
Segundo as centrais, o texto também tira a autonomia de os
sindicatos negociarem em nome dos servidores; não prevê as devidas punições
para os órgãos públicos; traz dúvidas quanto à competência jurídica para o
julgamento das greves; e limita o porte de arma de grevistas da área de
segurança pública.
Rubens Romão, da Força Sindical, cita ainda a confusão que
pode ser criada diante da atual lei (Lei 7783/89) que regulamenta o direito de
greve da iniciativa privada. "Nós temos, no serviço público, setores em
que há trabalhadores regidos tanto pelo regime jurídico único estatutário
quanto celetistas”, observa Romão. “Como é que fica essa relação? Faz-se uma
greve com uma parte com base na CLT e outra com base em uma lei para os
servidores públicos em geral?"
Prazo
O presidente da comissão mista, deputado Cândido Vaccarezza
(PT-SP), não quis fixar prazo para a apresentação do texto final do
anteprojeto. Segundo ele, ainda haverá negociação com o governo, mas a
prioridade é ampliar o diálogo com o movimento sindical: "Vou priorizar a
negociação com o movimento sindical, mas queremos também ouvir o governo. Nós
vamos dar um tempo para o diálogo".
Além da CUT, Força Sindical e CSB, também participaram da
audiência pública representantes da Central dos Trabalhadores do Brasil (CTB),
Nova Central Sindical dos Trabalhadores (NCST), Central Geral dos Trabalhadores
do Brasil (CGTB), União Geral dos Trabalhadores (UGT) e Central Sindical e
Popular (Conlutas).