Rodolfo Costa
Correio Braziliense
- 09/05/2015
Depois de uma semana de negociação com o Ministério do
Planejamento, sem contraproposta, algumas categorias mantêm intenção de
paralisar atividades pontualmente para pressionar o governo. Mas, em caso de
dificuldades nos acordos, podem partir para greve geral
A primeira semana de negociações entre servidores e governo
pela campanha salarial de 2015 começou agitada. Apesar de algumas
representações sindicais manterem a esperança em relação à contraproposta que o
Executivo deve apresentar entre junho e julho, outras lideranças colocam em
xeque a credibilidade do Planalto, prometem pressão e já se preparam para
manifestações, paralisações pontuais e até greve.
Ao longo da semana, o secretário de Relações do Trabalho do
Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, recebeu 23 grupos sindicais. O
representante do Executivo garantiu que, nesta primeira rodada de negociações,
que vai até o fim do mês, nenhuma pauta geral ou específica está sendo
avaliada. Ontem, ele se reuniu com a equipe para analisar as reivindicações
apresentadas.
No entanto, será difícil o governo aceitar a principal
proposta salarial reivindicada pelos trabalhadores, de 27,3%. Como são fortes
as chances de a contraproposta ser apresentada com valor inferior ao pedido
pelos servidores, eles já avisam: não tem conversa sem um reajuste de 8% ao
ano. A proposta unificada da campanha salarial prevê pagamento linear em quatro
anos, e, segundo representantes da categoria, foi calculada estimando a
inflação oficial medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo
(IPCA) de agosto de 2010 a julho de 2016, o que deve dar em torno de 44%.
Espaço fiscal
"Nesse cálculo, já estão descontados os 15,8% pagos em
três parcelas entre 2013 e 2015, mais o ganho real de 2%", explicou o
presidente do Sindicato Nacional dos Analistas e Técnicos de Finanças e
Controle, Rudinei Marques. Para ele, o discurso do governo de que não há espaço
fiscal deixa o Planalto em uma situação delicada. "A economia é
basicamente expectativa. Se nos for apresentado um percentual muito baixo de
recomposição, significa que o ajuste não terá o efeito esperado e a economia
não vai reagir. O próprio governo estará sentenciando a estagnação para o
próximo ano", avaliou.
Os servidores da Controladoria-Geral da União (CGU) estão
mobilizados, e em assembleias, definirão os rumos do primeiro dia de
paralisação, previsto para a segunda quinzena deste mês. A ideia é expandir os
protestos para todas as carreiras de estados. "Serão apenas paralisações
pontuais. Vamos esperar pela resposta do governo", afirmou Marques. No
entanto, ele destacou que a Unacon Sindical está em assembleia geral
permanente. "Como é de praxe, podemos fazer uma convocação e, com dois
dias de antecedência, comunicar o governo e decretar a greve."
Entre as principais reivindicações dos servidores está a
equalização das carreiras típicas de estado no patamar de 90,25% do salário dos
ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além da modernização das de nível
técnico, cobrada por oito categorias. "Parece totalmente razoável imaginar
servidores formados nas melhores universidades do país, muitos com mestrados e
doutorados, chegando ao fim de suas carreiras ganhando R$ 30 mil mensal",
avaliou Ítalo Viana, diretor do Sindicato Nacional dos Servidores da
Superintendência de Seguros Privados (SindSusep).
O Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho
(Sinait) também exige a regulamentação da Convenção 151 da Organização
Internacional do Trabalho (OIT), que prevê a necessidade de estabelecer as
negociações coletivas no serviço público. "Hoje, não há normatização que
obrigue o governo a negociar", disse a presidente da entidade, Rosa Maria
Campos Jorge.