Vera Batista
Correio Braziliense
- 25/09/2015
Apesar de os juros cobrados pelos bancos nas operações com
pessoas físicas terem registrado altas sucessivas, o estoque de recursos
disponíveis não parou de crescer. No empréstimo consignado (parcelas deduzidas
da folha de pagamento), de agosto de 2014 a agosto de 2015, o montante subiu de
R$ 243,1 bilhões para R$ 270,3 bilhões, alta de 11,2% em 12 meses. A quantia,
no entanto, não foi distribuída igualmente. Do bolo, R$ 165,5 bilhões foram
somente para servidores públicos. Para os beneficiários do Instituto Nacional
do Seguro Social (INSS), R$ 85,3 bilhões. E, para os trabalhadores da
iniciativa privada, sobraram apenas R$ 19,4 bilhões.
O crescimento percentual dos aportes, nos três setores, foi
de 9,9%, 16,2% e 1,6%, respectivamente. Resultado, segundo analistas, que se
deve principalmente aos incentivos do governo - elevou prazos e percentuais do
comprometimento da renda - e aos juros mais convidativos da modalidade. Os
índices, no entanto, castigam mais uns que outros. Pesam mais no bolso do
trabalhador da iniciativa privada.
De acordo com dados do Banco Central, enquanto os servidores
públicos arcam com taxa média de juros de 26,3% anuais, e os aposentados, com
28,2%, o restante da população, quando consegue empréstimo, tem que pagar
40,7%. A explicação para a diferença é o risco. Funcionários públicos têm
estabilidade e aposentados, salário vitalício. Já os que estão no mercado de trabalho
vivem sob a ameaça constante do desemprego.
Cesar Bergo, sócio-consultor da Corretora OpenInvest,
lembrou que, normalmente, a taxa do crédito pessoal e do CDC são o dobro.
"E, como o governo recentemente aumentou o limite de 30% para 35% do
salário e o INSS subiu o número de prestações de 60 para 72 meses, muitas
vezes, o aposentado ou o servidor, para socorrer o filho pendurado no cheque
especial e no cartão de crédito, recorre ao consignado sem pensar nas
consequências".
Diante da crise econômica e política que o país vive, porém,
a farra do consignado tende a desaparecer. "As pessoas estão cada vez mais
endividadas. Não é à toa que o consumo das famílias vem caindo", afirmou
Bergo. Miguel Ribeiro Oliveira, vice-presidente da Associação Nacional dos
Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac), disse que os
consignados crescem entre servidores e aposentados pelas facilidades em
pesquisar taxas.
Concorrência
"Não há vínculo com o banco. Eles têm mais de 30
instituições financeiras disputando seus ganhos mensais. O trabalhador da
iniciativa privada está amarrado a um contrato entre empresa para a qual presta serviço e o banco
escolhido por ela. Não desfruta dos benefícios da concorrência", afirmou
Oliveira. Além disso, todo o sistema está de olho na taxa de desemprego, que
subiu para 7,6% em agosto, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). "É a maior taxa para o mês desde 2009,
quando foi de 8,1%. O risco está aumentando", lembrou.
Nicolas Tingas, economista-chefe da Associação Nacional das
Instituições de Crédito, Financiamento e Investimento (Acrefi), lembrou que,
desde o início de 2014, a demanda por consignado começou a murchar na
iniciativa privada, por vários motivos. "As pessoas sabem que dinheiro é
uma mercadoria que tem preço. E custa caro. Optaram por não se endividar. Os
bancos, por outro lado, se desinteressaram, porque a carteira deixou de
crescer, enquanto o custo administrativo se expandiu. Creio que agora, diante
da recessão, o mesmo pode acontecer nas transações com outras categorias",
sinalizou.
Endividamento em alta (em R$ bilhões)
Restrição de crédito não atinge linha com garantia como a de
consignado para funcionários públicos e para beneficiários do INSS
Período
|
Servidor
|
Aposentados
|
Trabalhador privado
|
Dez/2013
|
137,2
|
66,7
|
17,9
|
Dez/2014
|
155,8
|
77,2
|
19,2
|
Jan/2015
|
156,7
|
78,2
|
78,2
|
Fev/2015
|
157,5
|
79,8
|
19,4
|
Mar/2015
|
159,2
|
81,2
|
19,4
|
Abr/2015
|
160,5
|
82,1
|
19,4
|
Mai/2015
|
161,6
|
83,0
|
19,4
|
Jun/2015
|
163,3
|
83,8
|
19,4
|
Jul/2015
|
164,4
|
84,6
|
19,4
|
Ago/2015
|
165,6
|
85,3
|
19,4
|
Fonte: Banco Central
BB empresta para 13º salário
O Banco do Brasil já liberou R$ 637 milhões às micro e
pequenas empresas na linha de crédito que permite o financiamento de até 100%
do 13º dos empregados. Normalmente, esse tipo de crédito - que dá oportunidade
às companhias de cumprir as obrigações trabalhistas com os encargos sociais sem
comprometer o fluxo de caixa - é oferecido pelos bancos em setembro. O BB optou
por antecipar para julho para impulsionar o produto. Podem pegar o empréstimo
empresas de qualquer porte.