Agência Brasil
- 30/05/2016
Após a divulgação de conversas gravadas em que aparece criticando
a Operação Lava Jato e dando orientações para a defesa de investigados em
esquema de desvios de recursos na Petrobras, o ministro da Transparência,
Fiscalização e Controle, Fabiano Silveira, negou, em nota, qualquer intervenção
a favor de terceiros. Os áudios foram revelados ontem (29) pelo programa
Fantástico, da TV Globo, segundo o qual as gravações foram feitas por pelo
ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado no fim de fevereiro, durante um
encontro na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Mais cedo,
funcionários do órgão fizeram um protesto pedindo a saída de Silveira do cargo
de ministro.
Funcionário de carreira do Senado, Silveira participou da
reunião quando ainda era integrante do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e
seria indicado por Calheiros para o cargo. A conversa ocorreu antes de assumir
o comando da pasta criada pelo presidente interino Michel Temer para substituir
a extinta Controladoria-Geral da União (CGU), órgão que era responsável por
investigar e combater a corrupção no governo.
Por meio de nota enviada hoje (30) à Agência Brasil,
Silveira disse ter comparecido “de passagem” à residência do presidente do
Senado, sem saber da presença de Sérgio Machado, com quem não tem nenhuma
relação pessoal ou profissional. Ele negou ter feito qualquer intervenção em
órgãos públicos a favor de terceiros. “Chega a ser um despropósito sugerir que
o Ministério Público [...] possa sofrer interferências”, diz a nota.
Segundo a assessoria do ministro, após ter sido procurado
pela produção do Fantástico, o ministro entrou em contato com o presidente
interino Michel Temer e seguiu para assistir a reportagem ao lado de Temer, que
teria dito não haver enxergado críticas à Lava Jato nas declarações de
Silveira. Ainda segundo a assessoria, Silveira não poderia, à época das
gravações, “sequer imaginar que se tornaria ministro”.
"PGR está perdida"
Nos áudios, Machado, Renan, Silveira e Bruno Mendes,
advogado do presidente do Senado, discutem a cobertura da mídia e estratégias
de defesa envolvendo a Operação Lava Jato.
Em um dos trechos, Silveira diz que a Procuradoria-geral da
República (PGR) “está perdida nessa questão”, ao comentar as investigações
envolvendo Sérgio Machado no âmbito da Lava Jato.
Em um momento anterior da conversa, Silveira parece orientar
Renan Calheiros a não entregar à PGR uma versão de sua defesa para os fatos
investigados.
“A única ressalva que eu faria é a seguinte: está entregando
já a sua versão pros caras da... PGR, né.
Entendeu? Presidente, porque tem uns detalhes aqui que eles...
(inaudível) Eles não terão condição, mas
quando você coloca aqui, eles vão querer rebater os detalhes que colocou.
(inaudível)”, diz Silveira nos áudios veiculados pela TV Globo.
Em outra passagem, Renan se demonstra preocupado com uma
denúncia de que sua campanha teria recebido R$ 800 mil em propinas ligadas à
Transpetro. "Cuidado, Fabiano! Esse negócio do recibo... Isso me preocupa
pra c...", afirma o presidente do Senado.
A reportagem da TV Globo disse ter apurado que Silveira
serviu como emissário de Calheiros no contato com pessoas ligadas a
investigações da Lava Jato.
As conversas entre Sérgio Machado e membros da cúpula do
PMDB começaram a vir à tona há uma semana, quando o jornal Folha de S. Paulo
publicou trechos de áudios em poder da Procuradoria-Geral da República (PGR). O
executivo teria gravado as conversas para negociar uma delação premiada, pois
temia ser preso na Lava Jato.