BSPF - 12/08/2017
Representantes de categorias não descartam a possibilidade
de greves e paralisações
A sinalização do governo de que deve suspender em 2018 os
reajuste salariais dos servidores desagrada a categoria e atinge em cheio as
carreiras de Estado que fecharam acordos remuneratórios em quatro parcelas até
2019 (5,5%, em 2016, 6,99%, em 2017, 6,65%, em 2018, e 6,31%, em 2019). De acordo com Cláudio Damasceno, presidente
do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais (Sindifisco), as entidades não
devem aceitar a medida de braços cruzados. Ele não descarta a possibilidade de
greves e paralisações e afirma que a medida será inócua, pois, no futuro, o
governo terá de pagar o combinado com atualização monetária. “Tudo pode
acontecer se o governo insistir em levar isso adiante”, afirmou.
Na avaliação de Damasceno, a atitude do governo “é uma tentativa de jogar o desarranjo das
contas do país nas costas dos servidores públicos”. Para André Perim,
presidente da Associação Nacional dos Analistas e Especialistas em
Infraestrutura (Aneinfra), o governo falhou ao não abrir o diálogo com os
representantes da classe. “Isso não significa que aceitaríamos, mas gera uma
chateação, pois tínhamos um acordo”, afirmou.
O presidente do Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do
Trabalho, Carlos Silva, lembrou que, como as negociações já estavam em
andamento durante a tramitação da emenda que limita os gastos da União, os
reajustes não podem ser incluídos no pacote. “ É um desrespeito. O presidente
Temer chegou ao governo falando que acordos eram para ser cumpridos. Agora,
dizemos que lei é para ser cumprida. Não podemos aceitar que façam o que
quiserem com o funcionalismo”, criticou.
Pelos cálculos do presidente do Fórum Nacional das Carreiras
de Estado (Fonacate), Rudinei Marques, partindo do princípio de redução de
gastos de R$ 11 bilhões, o desembolso crescerá, pelo menos, em R$ 1,6 bilhão.
Ele considerou juros de aproximadamente 5% nas indenizações de passivos
trabalhistas, equivalentes a R$ 500 milhões, mais os honorários advocatícios de
10%, o que custaria R$ 1,1 bilhão ao governo. “A conta se refere apenas ao
custo financeiro de oito carreiras que tiveram as reivindicações salariais
encerradas após a aprovação da emenda constitucional que definiu o teto dos
gastos”, explicou.
A intenção do governo dividiu especialistas. Para o advogado
Rudi Cassel, do escritório Cassel Ruzzarin Santos Rodrigues Advogados, o texto
da emenda constitucional que estabeleceu o teto dos gastos deixou claro que os
efeitos não podem ser aplicados a atos anteriores. “Todas as carreiras estavam
em negociação. E ainda que o reajuste seja parcelado, gera direito no momento
da publicação da lei”, garantiu. “Tudo indica que os servidores ganharão a
causa, e a conta será paga por quem estiver no poder”, ressaltou.
Já para Max Kolbe, do Kolbe Advogados Associados, não existe
direito absoluto e não se pode colocar o servidor acima das necessidades da
coletividade. “A pergunta que se faz é em que medida o benefício de algumas
categorias vai prejudicar a sociedade. Se o ganho coletivo for maior, vale o
congelamento de salários. É possível, plausível e razoável”, destacou.
(Vera Batista , Marlla Sabino)
Fonte: Correio Braziliense