domingo, 5 de agosto de 2018

Diferença salarial entre servidores e celetistas é de 142% no DF


Correio Braziliense     -     05/08/2018




Estatutário ganha, em média, R$ 7.335 e celetista, R$ 3.023 na capital. Centro-Oeste é a região onde a desigualdade entre servidor e trabalhador privado é maior

Os servidores públicos ganham, em média, salário 80,9% maior do que os trabalhadores da iniciativa privada. No Distrito Federal, porém, a desigualdade é ainda maior. Os estatutários têm renda média de R$ 7.335 e os celetistas, de R$ 3.023,03 — diferença de 142,6%. Os dados fazem parte de um levantamento da Confederação Nacional do Comércio (CNC), feito a pedido do Correio.

A pesquisa aponta, ainda, que o Centro-Oeste é a região com maior diferença salarial entre servidores e trabalhadores da iniciativa privada. Em Goiás, os estatutários ganham, em média, o dobro dos celetistas; em Mato Grosso, a diferença é de 140,7%; e, em Mato Grosso do Sul, de 140,6% (veja arte). A região com menor disparidade é o Sudeste. Em Minas Gerais, a diferença é de 103,2%; no Espírito Santo, de 85,9%; e no, Rio de Janeiro, de 79,5%.

São Paulo é o estado com o menor nível de desigualdade, mas os trabalhadores da administração pública têm contracheque médio 55% maior do que o dos servidores públicos. O economista-chefe da CNC, Fabio Bentes, explica que essas disparidades são maiores nos estados em que há maior dependência da administração pública na massa de salários ou com menor nível de industrialização. No caso do Centro-Oeste, além dessa realidade, há presença forte dos salários do campo, menores dos que os pagos em regiões urbanas, por isso, a diferença é maior.

Bentes destaca que, entre 2006 e 2016, a participação dos servidores no número total de trabalhadores diminuiu de 21,2% para 18,7%. Entretanto, o nível de renda desse grupo subiu significativamente, diante dos reajustes salariais superiores aos concedidos a trabalhadores da iniciativa privada. “Para piorar, temos um nível de produtividade baixo tanto no setor privado quanto no setor público. Temos um contingente significativo da mão de obra empregada em atividades de baixo valor agregado, com baixa qualificação. Inegavelmente, o Brasil e um país de baixa produtividade”, ressalta.

Para o economista Carlos Alberto Ramos, professor da Universidade de Brasília (UnB), alguns fatores explicam tamanha disparidade. O primeiro é a inexistência de concorrência no setor público e a garantia de estabilidade. Com salários iniciais atrativos e categorias organizadas, com forte poder de pressão, os reajustes são custeados pela sociedade. No setor privado, aumento de remuneração representa elevação de custos. “Os reajustes no setor público não têm relação com produtividade. E a estabilidade, que, por um lado impede que os cargos sejam preenchidos por apadrinhados políticos, traz o problema da acomodação. Se vou ganhar o mesmo para trabalhar muito ou pouco, trabalho pouco”, diz.

Ineficiência

Na avaliação do administrador Ricardo Rocha, professor de Finanças da escola de negócios Insper, a crise econômica agravou ainda mais as disparidades. Para sobreviver, vários empresários substituíram os empregados com maiores salários por trabalhadores com o mesmo perfil e remuneração inferior. Segundo ele, os reajustes salariais concedidos entre 2006 e 2016 não tiveram como base qualquer aumento de produtividade, mas foram ignorados pela população diante do crescimento econômico do país. “Não significa que o salário é injusto. Mas não há qualquer avaliação técnica que aponte a qualidade do trabalho realizado. A percepção que impera é que temos uma estrutura de Estado que é ineficiente”, ressalta.

O motorista de ônibus José Augusto Monteiro, 42 anos, trabalha há 17 na profissão e reclama que os reajustes salariais que recebeu ao longo dos anos não cobriram as perdas inflacionárias. Segundo ele, a remuneração mensal de R$ 2.456 é menor do que a recebida por quem trabalha no serviço público para desempenhar a mesma função. “Gosto do que eu faço, mas muita gente, sem a mesma qualificação que eu tenho, ganha mais para ser motorista na Esplanada dos Ministérios”, diz.

Casado e pai de um filho, ele ressalta que se esforçará para que a criança de oito anos tenha mais oportunidades. Para ele, o ideal seria que ele estudasse e no futuro fizesse um concurso público para ter uma renda melhor. “O servidor tem estabilidade e bom salário. Quero que meu filho tenha uma vida melhor que a minha”, afirma.

Por Antonio Temóteo


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