BSPF - 15/12/2018
Luiz Lopes Batista foi o primeiro servidor com deficiência a
ingressar no Superior Tribunal de Justiça (STJ), em 1990. De lá para cá, ele
testemunhou praticamente toda a história escrita pela corte em 30 anos dedicados
ao cidadão. Luiz tem 63 anos e é cego, aposentou-se em março, mas garante que
guarda na memória, como se fosse hoje, momentos inesquecíveis de amizade,
entrega e superação no trabalho.
Natural de Água Branca (PI), o servidor veio para o Distrito
Federal quando tinha 16 anos, época em que foi alfabetizado e aprendeu braile,
sistema de escrita voltado a quem tem a visão comprometida. Matriculou-se no
Centro de Ensino Especial (CEE) e, no começo, a professora precisava ir à sua
casa para as lições. Após o período de adaptação, passou a frequentar a sala de
aula e não parou mais. Luiz se formou em direito, especializando-se em
constitucional.
Vencendo barreiras
Tudo teria sido mais fácil, se Luiz não convivesse com um
glaucoma congênito grave que acabou provocando a perda total da visão aos dois
anos de idade. “O importante é acreditar no que somos capazes de realizar e
entender nossas limitações, sem nos sentir diminuídos. Assim, conseguimos
chegar a um lugar na vida e realizar os objetivos”, afirma o servidor
aposentado.
Dito e feito. A cegueira não foi capaz de impedir que Luiz
construísse uma reconhecida trajetória profissional. O bacharel em direito foi
aprovado em vários concursos públicos. “Na época ainda não havia vagas
destinadas a ‘portadores de necessidades especiais’, como se dizia”, conta
Luiz. Primeiro, passou na Fundação Hospitalar do Distrito Federal; depois, no
Tribunal de Contas da União; e, por fim, no Tribunal da Cidadania, onde
trabalhou por 28 anos.
Trabalho e inclusão
Na maior parte do tempo em que esteve no STJ, ele trabalhou
na Assessoria Direta aos Ministros, lotado nas Comissões Permanentes. Um dos
momentos marcantes para o servidor foi o dia da sua posse, sob a presidência do
ministro Washington Bolívar. “Foi inesquecível. Recebi uma Constituição de
presente” – lembra, com saudade, da receptividade dos colegas.
A chegada de Luiz abriu portas para que o tribunal iniciasse
diversas ações voltadas à inclusão de pessoas com deficiência. No caso
específico do servidor, a partir de 2000, o STJ adquiriu um computador adaptado
com o Jaws, software criado para acessibilidade de deficientes visuais que lê
informações na tela por meio de um sintetizador de voz.
“Foi um salto”, lembra. Com a nova ferramenta, o ex-assessor
recorda que passou a ter melhores condições de trabalho e a desempenhar
atividades com mais eficiência e independência. “Hoje, tenho esse programa em
casa. Não consigo mais ficar sem ele.”
Luiz conta que, durante cinco anos, acompanhou o ministro
Cesar Asfor Rocha (hoje aposentado) ao Conselho Nacional de Justiça (CNJ), onde
era chamado a participar de reuniões com a ministra Nancy Andrighi para falar
sobre inclusão.
Reconhecimento
Outro fato que marcou a vida do servidor foi sua despedida
do tribunal. “Na última sessão da Corte Especial que presenciei, o ministro
Mauro Campbell Marques, em nome de todos os ministros, prestou homenagem à
minha atuação no STJ. Esse reconhecimento vou levar para sempre”, recorda,
emocionado.
Hoje, Luiz Lopes, que conquistou recentemente sua carteira
da Ordem dos Advogados do Brasil (como servidor da Justiça ele não podia ser
inscrito), curte o descanso merecido da aposentadoria e diz que seu trabalho
agora é cuidar do único neto, Heitor, de um ano.
“Espero que o STJ continue com essa proposta de inclusão e
que ela se aprimore cada vez mais. Tenho realmente certeza de que isso vai
acontecer, pois conheço pessoas no tribunal que estão nesse trabalho há
bastante tempo e são muito dedicadas à causa.”
Fonte: Assessoria de Imprensa do STJ