terça-feira, 17 de julho de 2012

O resgate da função pública



Congresso em Foco      -     17/07/2012




“Policiais civis e militares, médicos e profissionais das unidades básicas de atendimento e professores não podem mais continuar recebendo ordenados simbólicos”

Muitos ainda não se deram conta, mas a melhoria da remuneração de numerosos cargos preenchidos por concurso, nos três poderes e nas esferas municipal, estadual e federal, está mudando o perfil dos profissionais contratados pelo Estado. Há uma nova geração de delegados de polícia – Civil e Federal –, auditores da Receita, fiscais de renda, defensores públicos e analistas de distintas áreas, além de grande parcela da Magistratura e do Ministério Público, que está mudando o perfil dos quadros do serviço público. São pessoas extremamente bem formadas do ponto de vista acadêmico, que conquistaram seu trabalho desapadrinhadas e por absoluto mérito, em concursos altamente competitivos.

Esse pessoal tem absoluta consciência de que não é serviçal do prefeito, governador, chefe da Nação ou presidentes de tribunais de Justiça e das instituições do Legislativo. Entende que sua patroa é a sociedade. Tal clarividência é uma das razões pelas quais cresceram substancialmente as denúncias e apurações de casos de corrupção nas máquinas administrativas. A informática facilitou o acesso aos dados e o cruzamento de informação, mas o conhecimento de causa, a isenção, o não sectarismo ideológico e partidário e o grau de profissionalismo desses novos quadros são os fatores determinantes dos avanços. Ou há alguém que acredita que o aumento da arrecadação de impostos também não esteja fortemente ligado a essa evolução?

Esse processo também está mudando a cultura de interação entre a sociedade e o Estado, com impacto direto até mesmo nas relações econômicas. O “sabe com quem está falando” não faz mais o menor sentido e é cada vez mais ignorado. O corruptor e o corrupto perdem espaço nos escalões profissionalizados dos serviços públicos. Muitos acordos sub-reptícios acabam frustrados nas telas de computadores desses novos servidores públicos, tão anônimos quanto competentes, transformando-se em casos muitas vezes midiáticos e até mesmo objetos de CPIs. Alguns, menos informados ou mais inconformados, preferem chamar esse fenômeno de aparelhamento do Estado…

O aprimoramento dos quadros concursados do serviço público, contudo, é uma obra inacabada, pois há três grandes gargalos a serem equacionados: segurança, saúde e educação. Policiais civis e militares, médicos e profissionais das unidades básicas de atendimento e professores não podem mais continuar recebendo ordenados simbólicos, considerada a relevância de seu trabalho para toda a população brasileira.

Que seja referendado no Senado e sancionado pela presidente Dilma Rousseff ,o projeto de lei relativo ao Plano Nacional da Educação, recentemente aprovado na Câmara dos Deputados, que destina 10% do PIB ao ensino. Porém, que esses recursos revertam-se, em boa parte, à melhoria dos salários do Magistério. Que se equacionem, do mesmo modo, os vencimentos de quem cuida da saúde e do direito de ir e vir dos cidadãos. Isso é fundamental para que o definitivo resgate da função pública proporcione ao Estado condições de exercer de modo mais eficaz a sua missão institucional e sociológica como meio para o bem-estar humano.

Por Antoninho Marmo Trevisan
Presidente da Trevisan Escola de Negócios, é membro do Conselho Superior do Movimento Brasil Competitivo e do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social da Presidência da República


Share This

Pellentesque vitae lectus in mauris sollicitudin ornare sit amet eget ligula. Donec pharetra, arcu eu consectetur semper, est nulla sodales risus, vel efficitur orci justo quis tellus. Phasellus sit amet est pharetra