Diário de Pernambuco
- 02/01/2017
Peça orçamentária aprovada pelo Congresso eleva em quase 7
mil o número de cargos que devem ser abertos pela União para reposição urgente
de mão de obra
Há notícias excelentes para o grande contingente de pessoas,
jovens ou maduras, desempregadas ou insatisfeitas, desejosas de abraçar uma
carreira no serviço público. A aprovação da Lei Orçamentária Anual (LOA) de
2017 aumentou em quase 7 mil os cargos que deverão ser preenchidos por
concursos, para reposição urgente de mão de obra na máquina federal. A previsão
inicial do Ministério do Planejamento era de realizar certames para preencher
cerca de 13 mil vagas apenas na esfera federal.
Não se deve esquecer as inúmeras vagas na mira dos cursinhos
preparatórios, que dão como certa a abertura de seleções públicas em órgãos
importantes das esferas federal, estadual e municipal, tanto no Poder Executivo
quanto no Legislativo e no Judiciário. Além disso, há os concursos em processos
já abertos no país prontos para receber inscrições no início do ano. Por isso,
e muito mais, os concurseiros podem contar com a abertura de 25 mil (já
informadas) e de 80 mil (em perspectiva) oportunidades neste ano, segundo as
estimativas de especialistas.
Em Brasília, por exemplo, há novidades recém-anunciadas,
como a contratação para mais de 100 cargos na Câmara Legislativa do Distrito
Federal, segundo o novo presidente da Casa, deputado Joe Valle (PDT). Ao
Correio, ele justifica que as novas contratações são necessárias por "ter
muita gente se aposentando, e porque, há mais de 10 anos, a Câmara não admite
por concurso". A chamada para o certame deve ocorrer ainda no primeiro
semestre de 2017, indica Valle.
Determinação
Na esperança de que essas milhares de oportunidades sejam
abertas rapidamente, Guilherme Werneck, 25 anos, apesar de há dois anos ter
sido aprovado no concurso do Ministério da Agricultura, vai sacrificar as
férias de janeiro estudando para as provas do Tribunal Regional Federal (TRF)
de São Paulo. "Não dá para colocar a ambição no bolso", diz ele, que
retornou à categoria de concurseiro, mesmo trabalhando e estudando Comunicação
Organizacional na Universidade de Brasília (UnB).
"Gosto muito do meu trabalho, aprendo bastante a cada
dia, viajo, mas me interessei pela área jurídica e estou colocando foco
nisso", diz Werneck, de olho nas altas remunerações e outras vantagens que
o Judiciário oferece. Passou no concurso para Agricultura um ano depois de
fazer várias provas para cargos em outros órgãos públicos.
Para passar, Werneck tem uma fórmula: uma boa base no
preparatório do pré-vestibular pavimentou o caminho das matérias exigidas nos
concursos. Ele conta que mergulhou a cara nos livros e ficou bem conhecido dos
porteiros da Biblioteca Machado de Assis, no centro de Taguatinga. "O
cursinho é bom, mas a questão mesmo é você esquentar o banco e estudar",
continua. Chegou a trancar a UnB por seis meses para focar nos concursos. E
valeu. "Tem que ter dedicação, deixar a preguiça de lado, pegar as
matérias, acompanhar o edital certinho e meter as caras, sacrificando baladas e
qualquer vida social", aconselha.
Algumas propostas do governo, no entanto, enchem o horizonte
de quem quer entrar no funcionalismo de incertezas, como a emenda
constitucional promulgada, limitando os gastos públicos pelos próximos 20 anos
à correção inflacionária, a PEC do Teto, e a proposta de reforma
previdenciária. Mas analistas afirmam que a esperança não deve ser perdida,
pois 2017 "será favorável", uma vez que, "mesmo em tempo de escassez,
surgem oportunidades imperdíveis".
O concurseiro não deve se curvar ao pessimismo. 2017 será,
sim, um ano promissor, com abertura de novas vagas no serviço público. Essa é a
visão de quem está bem ambientado no mundo dos concursos, como o advogado Max
Kolbe, que trocou a sala de aula do cursinho pela advocacia há apenas três
anos. "Sempre haverá concurso público", vaticina ele, lembrando que,
mesmo com a medida do teto para os gastos pela inflação, o aperto nas finanças
federais só começará em 2018.
Para este ano, a regra será adicionar crescimento de 7,2%
nas despesas do Orçamento da União, bem acima da taxa de 6,40% prevista pelo
boletim semanal Focus, do Banco Central, para 2016. "Há muitas
oportunidades. A pessoa que quer, realmente, abraçar a carreira pública não
deve desanimar", reforça o professor Gabriel Granjeiro, presidente do
Grancursos On-line. "Quando se olha o espectro do Brasil como um todo, há
inúmeras oportunidades", continua, ressaltando que se mantém forte o
interesse pelos concursos, com aumento significativo das inscrições para
estudos on-line, via internet.
Mesmo se aprovada a proposta de reforma da Previdência
Social, que amplia a idade mínima de 60 para 65 anos, nada deve mudar na cabeça
de quem aposta no futuro como servidor público, acredita Granjeiro. "O
jovem já sabe que vai ter que trabalhar mais para ter acesso à seguridade, já
tem essa mentalidade, porque é uma tendência mundial, e vários países vêm
adotando políticas de alongamento da idade para se aposentar", explica
ele, lembrando a carreira militar se tornou mais atrativa pelo fato de ficar de
fora da mudança.
Reposição
"A necessidade de mão de obra vai sempre existir na
esfera pública e um mínimo de contratações é coisa certeira", diz o
advogado Carter Batista, apesar de ponderar que "a crise traz ventos nem
tão favoráveis". As medidas de controle de despesas do governo, segundo
ele, "dão alerta à população para pensar, rever ou fazer novos planos de
carreira."
Na avaliação de Kolbe, a PEC do Teto dos gastos públicos não
impedirá novos concursos porque cada órgão público vai continuar pedindo reposição
de pessoal, porque surgem as necessidades. "Temos que ser otimistas. O
concurseiro tem que olhar para frente."
Para Anderson Ferreira, coordenador do IMP e professor de
orçamento público, "o ano de 2017 vai ser melhor". Ele destaca que,
desde 2013, o cenário dos concursos foi alterado, a oferta diminuiu, "mas,
mesmo assim, tivemos concursos todos os anos, inclusive em 2016. O serviço
público não pode parar, tem que contratar", afirma.
A elevada demanda por concursos entre o público brasiliense
reflete a busca por segurança dos estudantes, segundo Roberto Piscitelli,
professor da UnB. "Em época de crise, todo mundo quer se agarrar a alguma
coisa, e o setor público sempre se apresenta como uma válvula de escape,
principalmente em Brasília, onde não tem grandes empresas", diz