Por Rogerio Leme
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- 27/10/2011
A contratação não aumentará a eficiência do governo, pois
existem problemas crônicos que necessitam de solução como a falta da gestão de
desempenho e de processos eficientes, afirma articulista
É comum ouvirmos críticas sobre o funcionalismo público, por
exemplo, que a máquina está inchada, que o governo federal, os estados e
municípios estão no limite dos gastos com folha de pagamento permitido pela lei
de responsabilidade fiscal, entre tantas outras.
E no meio destas críticas, temos a notícia da previsão de
contratação de 55 mil servidores públicos em 2012, anunciado pela ministra do
Planejamento, Miriam Belchior, sob a afirmação de ser um número bastante
criterioso e que foi estabelecido no orçamento do próximo ano e que não há
incoerência sobre a não contratação e ajuste.
Sob o atual ponto de vista das ineficientes políticas de
gestão de pessoas que a administração pública utiliza realmente existe a
necessidade da contratação, entretanto, quantidade não é qualidade.
Simplesmente contratar novos servidores não aumentará a eficiência do governo,
pois existem problemas crônicos como a falta de um instrumento de avaliação e
gestão de desempenho do servidor, de gestão de processos eficientes, de
infraestrutura básica e tecnológica, que pode permitir maior produtividade do
servidor, de políticas claras voltadas à gestão do conhecimento, capacitação,
retenção, meritocracia e, também, da valorização do bom servidor.
Os bons servidores carregam a instituição nas costas e não
são recompensados por seu desempenho superior, logo, na primeira oportunidade,
ocorre a evasão, que tem uma tendência de alta. Principalmente, porque a
chamada Geração Y está preocupada com realizações e conquistas, e não
simplesmente com a estabilidade de um serviço público. Os atuais instrumentos
de avaliação utilizados na maioria das instituições públicas são fracos e focam
em questões simplistas à realidade contemporânea, tais como assiduidade e
pontualidade.
A falta de estruturação e gestão eficiente de processos é
crônica. Servidores estão submetidos atribuições fragmentadas que são, na
realidade, fragmentos de tarefas a serem executadas e não constituem uma
atribuição ampla que possa ser caracterizada de responsabilidade. São menos
exigidos daquilo que realmente podem e devem contribuir.
Parte da ineficiência operacional existente nos setor
público está relacionada à falta de capacitação eficiente, pois a área de
gestão de pessoas ainda utiliza instrumentos ultrapassados de identificação de
necessidades de treinamento, isso, quando utilizam. Como resultado, ocorre a má
utilização do já escasso recurso financeiro voltado para o desenvolvimento de
servidores, além do impacto negativo na gestão e retenção do conhecimento na
instituição.
Contratar novos servidores é preciso, mas apenas
contratá-los é "tampar o sol com a peneira". Na realidade, somente a
contratação irá aumentar os problemas do setor público e não solucioná-los,
pois trata-se de uma "aquisição" de longo prazo. Quinze, vinte, às
vezes trinta anos. Todo o tempo que o servidor prestará serviços à uma
instituição.
O servidor é um patrimônio nacional que merece respeito e
investimento para que possa retribuir à sociedade seu potencial e verdadeiro
valor. Esse é o meio para termos um governo mais eficiente.
Rogerio Leme - diretor da Leme Consultoria - responsável
pelo desenvolvimento de uma metodologia capaz de mensurar as competências dos
colaboradores com comprovação matemática. A empresa atua no mercado desde 1992
como consultora em Recursos Humanos, Gestão Empresarial e Sistemas de
Tecnologia da Informação. Rogério Leme também é autor dos livros:
"Aplicação Prática de Gestão de Pessoas por Competências",
"Avaliação de Desempenho com Foco em Competência", entre outros, todos
publicados pela editora Qualitymark.