PAULO DE TARSO LYRA
Correio Braziliense -
12/12/2011
Na expectativa de manter-se na chapa presidencial em 2014,
PMDB quer mostrar ser mais leal que o PT e o PSB. Apoio ao projeto de
previdência do funcionalismo é crucial
O PMDB vai aproveitar a votação do projeto que cria um plano
de previdência privada para os servidores públicos federais, que deverá ocorrer
na quarta-feira, para dar um recado à presidente Dilma Rousseff: a legenda é
fiel ao Planalto, confiável e merece continuar no condomínio presidencial em
2014, apesar do desconforto do PT com a aliança e de o PSB também estar de olho
na vaga. Com o senso de sobrevivência apurado e cientes de que a presidente
Dilma deseja mudar as regras do setor apesar da pressão dos sindicatos e da
resistência das legendas de esquerda, os peemedebistas encamparam a ideia. O
principal articulador do projeto é o ministro da Previdência, indicado pela
legenda: Garibaldi Alves (RN). "A presidente Dilma pode contar conosco,
mais de 80% do partido votará a favor da proposta do governo", avisa o
líder do partido na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).
O projeto representa apenas mais uma situação em que o PMDB
aproveita para dar os seus recados políticos aos demais integrantes da
coalizão, sobretudo ao PT, que sempre reclama do gigantismo do parceiro.
Henrique Alves não cita os petistas, mas é claro na provocação ao defender a
proposta redigida pela equipe econômica: "Apesar de alguns que ainda
insistem em debates emocionais, nós temos a certeza de que um projeto como esse
é importante para o país", provocou. Vale também para o PSB, que aposta
crescer nas eleições municipais para ser alternativa caso Dilma queira
divorciar-se do PMDB em 2014.
Os partidos de esquerda e os sindicatos estão especialmente
preocupados com os efeitos políticos da aprovação de um projeto dessa natureza
pela proximidade do ano eleitoral. "Eu não entendo como o nosso governo
concorda em assumir um desgaste desse tipo", reclama o diretor executivo
da CUT e coordenador do setor público da entidade, Pedro Armengol. "O PMDB
não precisa se preocupar com esse desgaste, eles e o PSDB são a mesma coisa.
Nós é que temos de carregar esse peso", reclamou.
Na semana passada, os sindicatos perturbaram os petistas,
sobretudo o relator do projeto, deputado Ricardo Berzoini (SP), ex-ministro da
Previdência e ex-presidente do Sindicato dos Bancários. Berzoini era titular da
pasta, em 2003, quando o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva enviou ao
Congresso o projeto de reforma da Previdência. A base sindical do PT estrilou,
parte dos parlamentares deixou a legenda para fundar o PSol e Lula só conseguiu
aprovar a taxação de 11% dos inativos. Em 2005, estourou o escândalo do
mensalão, Lula foi às ruas buscar apoio dos movimentos sindicais e sociais e,
ao ser reeleito em 2006, sepultou qualquer mudança nova nas regras de
previdência do funcionalismo público.
Os partidos aliados sabiam que Dilma retomaria a proposta do
fundo de previdência privada do funcionalismo. Tanto que o PMDB reclamou muito
ao ser informado de que o Ministério da Previdência ficaria com o partido. O
senador Eduardo Braga (PMDB-AM), primeiro a ser cogitado para o cargo, disse
"não, obrigado", afirmando que seria mais útil ao país cumprindo seu
mandato na Casa.
Sobrou para Garibaldi. Um ano depois, o partido sente-se
confortável. Está adorando a chance de polarizar com os aliados de esquerda.
"Eles não podem esquecer que somos da chapa presidencial. Não somos
integrantes da base, somos governo", lembrou um aliado do vice-presidente
da República, Michel Temer.
A relação do Planalto com a cúpula do PMDB sempre é tensa e,
não raro, envolve cobranças por cargos. No setor elétrico, Dilma perdeu a
paciência. Quando Henrique Alves disse, no início do ano, que não aceitaria a substituição
de nomes em Furnas, a presidente explodiu. "Não estou perguntando o que
você quer, estou dizendo o que eu quero."
Na semana passada, o presidente do Senado, José Sarney, foi
à presidente pedir, em troca do apoio do partido à PEC de Desvinculação dos
Recursos da União (DRU), cargos em estatais e na Agência Nacional do Petróleo
(ANP). Aliados da presidente dizem que ela só analisará os pedidos após a
reforma ministerial, em janeiro.