Vera Batista e Bárbara Nascimento
Correio Braziliense
- 15/08/2012
Inconformados com a falta de novas propostas pelo governo,
depois de duas horas de conversas, servidores tomaram uma decisão radical.
Trancaram-se na sala de reuniões do 7º andar do Ministério do Planejamento,
detiveram o secretário de Relações do Trabalho, Sérgio Mendonça, e fizeram uma
ameaça: ninguém sairia de lá enquanto não recebessem uma proposta do Planalto.
Policiais militares cercaram o prédio. No início da noite, eles decidiram
deixar a sala. Nas universidades, outro impasse: o governo mandou cortar o
ponto dos grevistas, mas, em vez disso, o MEC prefere a compensação dos dias
parados. Sem acordo, a greve só faz aumentar. Ontem, quem precisou resolver
pendências na Receita, na Previdência e nas DRTs voltou frustrado com a falta
de atendimento.
Depois de ouvir respostas negativas e evasivas às
reivindicações salariais, funcionários do Incra invadem sala do Ministério do
Planejamento, impedem secretário de Relações do Trabalho de sair do local e
bloqueiam a entrada de agentes de segurança.
Frustração e tumulto. Esse foi o saldo do primeiro dia da
nova rodada de negociações entre o governo e os sindicatos de servidores, que
estão em greve por reajustes de salários e reestruturação de carreiras. Apesar
de prometer apresentar novas propostas ao funcionalismo, depois de duas semanas
de interrupção nas conversas, o Ministério do Planejamento se limitou a ouvir
os mesmos pleitos. Segundo o secretário de Relações do Trabalho, Sérgio
Mendonça, como a projeto do Orçamento de 2013 ainda não foi fechado, não há
nada a ser apresentado aos grevistas. Na melhor das hipóteses, nas próximas
sexta ou segunda-feira, o Palácio do Planalto pode colocar alguma coisa na
mesa. Mas que ninguém se anime muito. "Temos até 31 de agosto para
elaborar as propostas, ainda estamos dentro do prazo", afirmou o
secretário.
A posição do governo anunciada por Mendonça provocou a ira
dos servidores. Em especial a dos funcionários do Instituto Nacional de
Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Ministério do Desenvolvimento
Agrário (MDA). Depois de duas horas de reunião, na qual ouviram "não"
para todas as suas reivindicações, invadiram a sala de reuniões do 7° andar do
Planejamento. Gritando palavras de ordem, ameaçaram não arredar o pé. Por
alguns minutos, mantiveram o secretário sequestrado lá dentro.
Porta fechada
Seguranças tentaram abrir a porta, sem sucesso. O
secretário-geral do Sindsep-DF, Oton Pereira Neves, disse que ninguém sairia do
local, enquanto os 30 servidores que participaram da reunião não recebessem uma
proposta do governo. "Foram 151 reuniões com o Planejamento desde janeiro,
para nada", afirmou. A tensão cresceu porque, no térreo do ministério,
mais de 200 grevistas fizeram uma barreira, impedindo a entrada e a saída das
pessoas. Rapidamente, o prédio foi cercado por policiais militares, para
impedir que o confronto tomasse maiores proporções.
Segundo Reginaldo Marques Aguiar, diretor da Confederação
Nacional das Associações dos Servidores do Incra, a decisão de permanecer na
sala de reuniões foi consequência da frustração. "Estamos sendo muito
maltratados. Há funcionários com 35 anos de casa ganhando R$ 2,5 mil por mês.
Além disso, não reivindicamos só salário. Queremos que o orçamento do Incra
passe de R$ 4 bilhões para R$ 6 bilhões. No ano passado, em vez de aumentar, o
governo cortou 25% da verba. Por causa disso, não foi possível cumprir as metas
do programa de reforma agrária", reclamou. Para Aguiar, "a reunião
com Mendonça foi péssima". O sindicalista garantiu que, em 28 das 30
superintendências do Incra, os funcionários estão em greve, com adesão entre
70% a 95%.
O clima de tensão já havia se instalado no Ministério do
Planejamento desde o início do dia, tamanha era a expectativa dos grevistas
pela retomada das negociações com o governo. O primeiro encontro foi com os
líderes da Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef).
A pauta girou em torno dos interesses de cerca de 120 mil servidores ativos de
18 setores, o chamado carreirão. Eles exigem reajuste médio de 30% para os
cargos de níveis superior, intermediário e auxiliar. Sem meias palavras,
Mendonça avisou que não será possível atender as reivindicações. Ele ressaltou
ainda que, caso todos os pedidos dos sindicatos de servidores do Executivo
fossem aceitos, o impacto nas contas públicas seria de R$ 60 bilhões anuais.
Quando consideradas as reivindicações dos Três Poderes, o custo para a União
atingiria R$ 92 bilhões.
O objetivo da Condsef é igualar os salários dos servidores
de nível superior das carreiras da Previdência, da Saúde e do Trabalho (CPST) e
do Plano Geral de Cargos do Poder Executivo (PGPE) aos de técnicos do Executivo
beneficiados pela Lei nº 12.277. A norma criou uma tabela salarial diferenciada
para 6.158 servidores — entre ativos e aposentados das áreas de estatística,
economia, arquitetura, biologia e engenharia, que têm vencimentos entre R$
5.460 e R$ 10.209,50.
FHC defende Dilma
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso saiu, ontem, em
defesa da postura da presidente Dilma Rousseff de resistir às reivindicações
dos servidores públicos em greve. Durante palestra em São Paulo, FHC lembrou
que ela enfrenta uma situação mais complexa do que viveu o ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva. "A presidente está num momento de dificuldade
financeira e fiscal e de muita pressão dos funcionários, que se habituaram, no
governo Lula, que tinha mais folga (orçamentária), a receber aumentos",
comentou.