Cristiane Bonfanti
O Globo - 29/08/2012
Mais de 500 mil servidores devem votar hoje pelo fim da
greve, que se arrasta há mais de três meses
Brasília - São Paulo e Rio Embora a maioria deva ser
formalizada só hoje, no início da noite de ontem o governo contabilizava
acordos com representantes de 30 categorias, que reúnem 90% dos servidores
públicos do Executivo. Depois de um queda de braço com quase 40 setores - que
aderiram às paralisações, prejudicando a população por mais de três meses -, o
Ministério do Planejamento informou que cinco categorias assinaram proposta de
reajuste parcelado em três anos e 25 indicaram que fechariam o acordo hoje.
A principal adesão ao acordo é da Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef). Ao todo, 510 mil servidores
do chamado carreirão, entre ativos e inativos, distribuídos em 18 órgãos,
receberão aumentos entre 14,29% e 37,05% até 2015, com impacto de R$ 3,9
bilhões nas contas públicas.
Os servidores de nível auxiliar receberão até R$
630; os de nível médio, R$ 930, e os de nível superior, mil reais. Os
aposentados levarão metade do percentual.
Parte dos servidores, como os do Distrito Federal, retorna
ao trabalho hoje; outros, só na segunda-feira. Segundo o Planejamento, os
acordos têm impacto máximo de 15,8% na folha em três anos.
- Aceitamos com algumas restrições. Queremos, por exemplo,
que o governo continue negociando a tabela salarial da lei 12.277 (que em 2010
deu até 78% de aumento a economistas, geólogos, estatísticos, engenheiros e
arquitetos) - disse Josemilton Costa, secretário-geral da Condsef.
O carreirão reúne basicamente os servidores do Plano Geral
de Cargos do Poder Executivo (PGPE); da Carreira da Saúde, Previdência e
Trabalho (CPST); e do Plano Especial de Cargos (PEC). Eles trabalham em órgãos
como Funasa, Funai, Arquivo Nacional, Imprensa Nacional e ministérios.
Ontem fecharam acordo os servidores do IBGE, que receberão
reajustes de 15,8% a 20% até 2015. Hoje eles farão assembleias, devendo voltar
ao batente na quinta-feira.
- O impacto no Orçamento deve ser de R$ 157 milhões em três
anos. Fizemos acordo, mas não estamos satisfeitos. O IBGE merece um olhar
melhor do governo - disse a presidente do sindicato da categoria, Suzana Lage
Drummond.
O secretário de Relações do Trabalho do Ministério do
Planejamento, Sérgio Mendonça, disse que agentes da Polícia Federal e auditores
fiscais da Receita, alguns dos servidores mais bem remunerados, sinalizaram que
não vão aceitar:
- Quem não fechar acordo poderá voltar a discutir reajustes
no ano que vem, com impacto para 2014 - disse Mendonça, ressaltando que o
governo só negociará o corte de ponto com o fim da greve.
As agências reguladoras também não chegaram a um consenso. A
Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) notificou 14 laboratórios
para informar as condições de seus estoques de medicamentos e insumos. Para
Irineu Grinberg, presidente da Sociedade Brasileira de Análises Clínicas
(Sbac), os efeitos continuarão sendo sentidos mesmo após o fim das
mobilizações.
Na fila: Bancário e petroleiro
Os servidores do Judiciário Federal de São Paulo, em greve
desde 8 de agosto, prometem "fechar o prédio" do Tribunal, na Avenida
Paulista hoje a partir das 9h. E os auditores da Receita irão para a porta da
sede paulista da Fazenda.
O diretor do Sindicato dos Trabalhadores do Poder Judiciário
Federal de São Paulo (Sintrajud-SP), Cléber Aguiar lembra que a categoria não
tem reajuste há seis anos. E diz que só voltam ao trabalho se o projeto de lei
6.613/09, que prevê reposição salarial de 31%, passar no Congresso.
Já a Polícia Federal de São Paulo, ainda em greve, fará
assembleia hoje à tarde para levar a decisão à reunião com os sindicatos de
outros estados na quinta-feira, em Brasília.
Depois da greve dos servidores públicos, nos próximos meses
pode haver paralisações em outros setores. Após quase um mês de negociações, a
Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) ofereceu ontem aos bancários reajuste
de 6%, ou 0,7% de aumento real. Bem abbaixo dos 10,25% pedidos pela categoria,
sendo 5% de correção acima da inflação.
A campanha dos petroleiros, cuja data-base é em setembro,
também está começando. No próximo dia 31, a Federação Única dos Petroleiros
(FUP) vai entregar sua proposta à Petrobras. A FUP pede a reposição salarial
com base no Índice do Custo de Vida (ICV) do Dieese de setembro de 2011 a
agosto deste ano, que deve ficar em 6%, e aumento real de 10%.