BSPF - 27/08/2017
Os bancos acenderam o sinal de alerta. Num momento em que o
governo federal propõe o adiamento dos reajustes dos servidores de 2018 para
2019 e corte de benefícios e os governos estaduais atrasam o pagamento de
salários, as dívidas do funcionalismo público chegaram a R$ 173 bilhões — um
recorde — apenas com o consignado, quase 10 vezes mais do que os débitos dos
trabalhadores da iniciativa privada, de R$ 18,1 bilhões.
Somente neste ano, as dívidas dos servidores no consignado
aumentaram R$ 5 bilhões, ou R$ 715,6 milhões por mês. O problema é que muitos
servidores não devem apenas no consignado, cujo desconto das prestações é feito
no contracheque. Eles também estão atolados no cartão de crédito e no cheque
especial. Há relatos de servidores que têm, no máximo, 20% do salário líquido
disponíveis para bancar todas as demais despesas.
“O superendividamento do funcionalismo é uma realidade”,
afirma um técnico da Esplanada dos Ministérios. Segundo ele, há casos
dramáticos, de pessoas que já esgotaram os limites de crédito dos bancos e
estão vivendo com empréstimos concedidos por agiotas. “Isso é uma realidade,
por mais que queiram mascarar a situação”, acrescenta. A estabilidade no
emprego cria a ilusão de que nunca faltará dinheiro.
Guerra por clientes
Agora preocupados, os bancos foram os maiores incentivadores
do endividamento dos servidores. Montaram verdadeiras estruturas de guerra para
oferecerem empréstimos a esse público. Sempre acreditaram que, como não podem
ser demitidos, os servidores apresentavam riscos muito baixos de inadimplência.
A crise fiscal no setor público mostrou, no entanto, que a realidade mudou
muito. Há sérios atrasos de salários Brasil afora.
A preocupação dos bancos não é de todo descabida. Dados do
Banco Centra mostram que o índice de calote no crédito consignado dos
servidores aumentou 0,3 ponto percentual nos últimos 12 meses, para 2,5%. Esse
índice é maior do que o 1,9% observado entre os aposentados e pensionistas do
Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
Os juros do crédito consignado aos servidores vêm se
mantendo praticamente estáveis. Pelos cálculos do Banco Central, estão em 25,9%
ao ano. São os mais baixos do mercado. Entre os trabalhadores da iniciativa
privada, os encargos médios chegam a 42,1% anuais.
Fonte: Blog do Vicente