Brasil de Fato
- 23/01/2020
Escalada de ofensas e constrangimentos por parte do governo
causam fenômeno coletivo no funcionalismo
Servidores públicos federais enfrentam uma onda de
adoecimentos psicológicos frente a determinadas declarações e ações do governo
federal. Diferentemente do assédio moral, o chamado assédio institucional não
está direcionado a indivíduos ou pequenos grupos e já passa a ser alvo de
estudo e análise por parte de especialistas em saúde do trabalho, juristas e representantes
das categorias.
O comportamento parte do estado como organização, na figura
de seus representantes, inclusive os eleitos. O problema acontece nas relações
institucionais das organizações e extrapola a dimensão individual e laboral. Ou
seja, o assédio não tem como vítima um trabalhador específico, mas se traduz na
desvalorização completa de todo o trabalho dos servidores públicos.
“Tem a ver com o constrangimento público que, por exemplo,
está em curso na relação entre o Ministério da Economia, representado pelo
ministro Paulo Guedes e uma organização como o IBGE, que tem uma vinculação
institucional com o Ministério” afirma José Celso Cardoso Junior, da Associação
dos Funcionários do Ipea - Afipea.
“Obviamente que tem uma hierarquia, mas isso não autoriza o
ministro a desqualificar o trabalho técnico realizado por esse órgão. O próprio
ministro da economia e o presidente da república desqualificam, por meio de
declarações e entrevistas, os resultados de pesquisas tecnicamente amparadas e
internacionalmente reconhecidas. É um assédio de caráter coletivo.” completa.
A Afipea vêm se dedicando a estudar e questionar as
diretrizes e os impactos das propostas de reforma do estado. Já há publicações
disponíveis nesse sentido, como os livros Desmonte do Estado e
Subdesenvolvimento – riscos e desafios para as organizações as políticas
públicas federais e Mitos Liberais Acerca do Estado Brasileiro e Bases para um
Serviço Público de Qualidade.
José Celso faz parte do grupo que reúne outros estudiosos,
além de juristas e representantes de categorias profissionais, para analisar o
fenômeno do assédio institucional. Os resultados dessas análises estarão em um
livro a ser publicado em março, com o título Erosão de Direitos: reformas
neoliberais e assédio institucional.
Celso afirma que a realidade não é pontual e se espalha
pelos órgãos públicos.
“Existem dois níveis do problema. O assédio institucional
organizacional acontece quando o governo desqualifica um órgão público, a
exemplo do que tem acontecido com Ibama, Instituto Chico Mendes, Funai, Capes,
CNPQ e muitos outros. O segundo nível é derivado desse, e envolve os próprios
servidores, que estão sendo diretamente constrangidos no desempenho de suas...