Agência Câmara Notícias
- 26/10/2017
Dados mostram que nos últimos anos institutos de pesquisa
tiveram redução drástica de pessoal. Deputado Celso Pansera teme que pesquisas
importantes sejam paralisadas
Representantes do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas
(CBPF) e da Rede Nacional de Física de Altas Energias (RENAFAE), dois órgãos
vinculados ao Ministério de Ciência Tecnologia, alertaram para as perdas
orçamentárias que atingem todo o setor e a não renovação do quadro de
pesquisadores e servidores.
Durante audiência pública da Comissão de Ciência e
Tecnologia, o diretor do CBPF, Ronald Shellard, disse que a carência de
pesquisadores e servidores é tão trágica quanto a falta de recursos.
"Comparem 2006 com 2017. Em 2006, nós tínhamos 172
servidores. Vocês me desculpem, mas não se faz nada sem gente. Hoje, nós temos
123 servidores. Quando se aposentam, a gente não substitui. O número de
pesquisadores caiu de 67 para 53. É um número ridículo. É patético que um país
como o Brasil tenha uma instituição com esse número de pesquisadores. Toda a
parte de infraestrutura administrativa também caiu brutalmente", afirmou
Shellard.
Segundo ele, no mesmo período, o número de analistas em
ciência e tecnologia caiu de 14 para 8. No caso da carreira de assistente em
Ciência e Tecnologia, que trabalha nas áreas de gestão, planejamento e
infraestrutura, a redução foi ainda maior: de 40 para apenas 20 profissionais
entre 2006 e este ano.
Emendas ao Orçamento
Para aliviar o drama orçamentário do setor, a Comissão de
Ciência e Tecnologia aprovou na semana passada quatro emendas ao Projeto da Lei
Orçamentária de 2018, beneficiando pesquisas em áreas como células-tronco,
nanotecnologia e indústria avançada.
Ex-ministro de Ciência e Tecnologia, o deputado Celso
Pansera (PMDB-RJ) lembrou que os cortes orçamentários vêm desde 2015 e têm sido
corrigidos com medidas paliativas. Pansera cobrou uma solução definitiva que
garanta, pelo menos, mais R$ 4 bilhões para o setor no Orçamento da União de
2018.
“Essas gambiarras já não têm mais como resolver o problema.
2018 é paradigmático: se não tiver recurso, o setor para. E se parar, serão de
10 a 15 anos para reacelerar as turbinas”, disse.
Segundo Pansera, o governo vai enviar uma nova proposta
orçamentária com mais R$ 30 bilhões. “Se o governo não tiver como pegar desses
R$ 30 bilhões e colocar R$ 4 bilhões para o ministério e para o setor, então
que eleve a previsão de deficit para R$ 163 ou R$ 164 bilhões. O que não é
possível é iniciar o próximo ano com essa previsão orçamentária, porque, com as
eleições e a polarização política que se desenha, o Congresso não terá como
aprovar uma reorganização orçamentária, como fizemos em julho deste ano",
concluiu.
Física e matemática
Além de mostrar o drama orçamentário do setor de Ciência e
Tecnologia, a intenção da audiência pública foi dar visibilidade às pesquisas
avançadas e importantes que estão em curso nas áreas de física e matemática.
Porém, o presidente da Rede Nacional de Física de Altas Energias, Ignácio
Hickman, mostrou um certo constrangimento ao falar do futuro.
“Nós estamos em um momento muito difícil. Falar sobre
perspectivas e futuro é uma coisa que pode parecer uma certa alienação, mas vou
me limitar ao que a gente pensa do futuro da ciência”, disse.
Apesar das dificuldades orçamentárias, Hickman apresentou
projetos em curso na área de física de altas energias, incluindo fusão nuclear,
astronomia, raio-x, aceleradores de partículas, raios cósmicos ultra
energéticos, entre outros.
Os dois palestrantes disseram contar com o apoio dos
parlamentares para garantir o efetivo funcionamento dos instrumentos
estratégicos de infraestrutura de Ciência e Tecnologia do país.