Não bastasse o aumento do custo de vida ter arranhado a
popularidade da presidente Dilma Rousseff, a chefe do Executivo deve começar a
enfrentar pressões por causa da alta dos preços dentro da própria
administração. Com a inflação oficial, medida pelo Índice de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA), a 6,5% — o teto da meta estabelecida pelo governo — em
maio, no acumulado de 12 meses, os servidores públicos federais começaram a se
mobilizar pelas campanhas salariais. Alegando corrosão do poder de compra, as
lideranças sindicais reivindicam que o Palácio do Planalto se sensibilize e
antecipe os 5% de 2015 para 2014.
"A gente se pauta na realidade. O poder aquisitivo
caiu, isso é básico. Termos assinado um acordo (de reajuste de 15,8%, dividido
em 5% ao ano, entre 2013 e 2015) empurrado goela abaixo não muda o fato de que
campanha salarial se faz todo ano. Pagamento em parcelas é um disparate. Nossa
intenção é, sim, antecipar a última parte para 2014 e entrar em nova negociação
em 2015", explicou Daro Piffer, presidente do Sindicato Nacional dos
Funcionários do Banco Central (Sinal). No ano passado, o governo enfrentou uma
forte onda de greves de diversas categorias em busca de correções salariais.
Houve órgãos que tiveram as atividades reduzidas por mais de dois meses.
Piffer argumentou também que, para os servidores, o governo
tenta confundir a sociedade com o discurso do corte de gastos com pessoal
atrelado à pequena expansão da economia. "Crescimento não tem a ver com
reajuste salarial. Quando robusto, o lado bom é que ele possibilita
distribuição de renda", reforçou Piffer. No fim maio, conta, um grupo de
servidores das carreiras típicas de Estado protocolou, no Ministério do
Planejamento, um documento com um projeto de valorização do servidor. Mas não
recebeu resposta.
Jogo duro
As queixas de Josemilton Costa, secretário-geral da
Confederação Nacional dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef),
vão no mesmo caminho. Ele pede que o governo, pelo menos, discuta as
possibilidades de antecipação de 5%. "Mas a ministra Miriam (Belchior, do
Planejamento) se faz de muda com os trabalhadores. É assim que funciona esse
governo: desonera folha de pagamento para empresários que continuam a demitir,
mas joga duro na hora de respeitar o servidor", criticou Costa.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério do
Planejamento, a antecipação de reajuste não é possível. "O que eles
(sindicalistas) estão propondo é uma quebra de acordo", informou. A
Secretaria de Relações do Trabalho da pasta negou que as negociações estejam
paradas. Argumentou que elas seguem em ritmo normal. Ainda segundo a assessoria
da SRT, a prova de que as relações não foram cortadas foi, inclusive, a
presença de representantes da Condsef na mesa de negociações na semana passada.
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