Correio Braziliense
- 26/08/2016
O reajuste salarial de 10 carreiras do funcionalismo público,
que provocou conflito entre o PMDB e o PSDB, deve ser aprovado. No Palácio do
Planalto, a informação é de que, se o aumento de ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) e servidores do Judiciário for aprovado no Senado, não será
vetado pelo presidente interino, Michel Temer. Os tucanos, que eram contrários
à concessão, decidiram jogar a toalha e não vão abandonar a base aliada, pelo
menos, até a aprovação da PEC que estipula teto para o aumento de gastos
públicos.
A insatisfação tucana se manifestou quando o Palácio do
Planalto atribuiu ao partido a resistência para aprovação de todos os
reajustes, indispondo os parlamentares do PSDB com ministros do Supremo. Houve
pressão para que o PMDB assumisse a bandeira impopular de negar o reajuste, que
elevará o teto salarial de todo o funcionalismo, com efeito cascata e impacto
nas despesas.
Para o professor de Administração Pública da Universidade de
Brasília (UnB) José Matias-Pereira, o problema é que o PMDB do gabinete do
presidente Temer, não é o mesmo partido de senadores que estão sendo
pressionados pelos magistrados para aprovarem o reajuste. "O PMDB é um
saco de gatos. Os políticos que aceitam fazer concessões querem se salvar do
rolo compressor que está por vir", alertou, referindo-se aos desdobramentos
da Operação Lava-Jato, cujas ações serão julgadas pelo STF.
Matias-Pereira ressaltou que o governo Temer está no fio da
navalha. "O impeachment é que vai permitir que ele exponha, para a base
aliada, o que pretende fazer. O PSDB tem uma posição coerente, de conter os
gastos, porque está de olho nas eleições de 2018, e quer, que até lá, o governo
reorganize as contas públicas", avaliou. Ele assinalou que, se os tucanos
assentirem com a concessão de benesses, o Brasil estará ingovernável em 2018.
Ao mesmo tempo, Matias-Pereira admitiu que o momento não é
de ampliar conflitos, por isso o PSDB abriu mão da sua posição e deve votar
pela aprovação. "Do ponto de vista político, o contexto exige movimentos
degrau por degrau. Por isso, há um recuo estratégico do PSDB até o impeachment
definitivo e a aprovação da PEC dos gastos", analisou.
Nesse cabo de guerra, o Planalto está torcendo para que não
haja quórum na sessão de 8 de setembro, quando o presidente do Senado, Renan
Calheiros, marcou a votação para o reajuste do STF e do Procurador-Geral da
República. Renan já criticou de forma indireta a oposição feita pelos tucanos à
proposta. "Essa, mais do que qualquer outra questão, não pode ser
partidarizada. É preciso conversar, ter racionalidade, bom senso", disse.
(Simone Kafruni)