BSPF - 03/11/2016
Após encontrar indícios de que 19,5 mil mulheres recebem
irregularmente pensão por serem filhas solteiras de servidores públicos, o
Tribunal de Contas da União determinou que elas comprovem não ter outras rendas
– exigência para se receber o benefício. As que não conseguirem provar
satisfatoriamente a necessidade de receber o benefício terão valores cortados, conforme
decidiu a corte nesta terça-feira (1/11).
Os ministros estimam que o pente-fino pode gerar uma economia de até R$
6 bilhões aos cofres públicos em quatro anos.
A pensão especial paga às filhas maiores de idade e
solteiras de servidores públicos federais é benefício previsto na Lei 3.373/58.
Na época em que foi criado, a maioria das mulheres não trabalhava fora de casa
e, em geral, as famílias eram sustentadas pelos homens. A norma tinha como
objetivo, portanto, não deixar desamparadas as filhas de servidores mortos.
O benefício foi extinto com a entrada em vigor do Estatuto
do Servidores Públicos Federais (Lei 8.112/90), mas as mulheres que já haviam
obtido o direito de receber os valores continuaram fazendo jus às pensões.
Auditoria do TCU
No entanto, uma auditoria feita pelo TCU em 2014 verificou a
existência de indícios de que pelo menos 19,5 mil beneficiárias tinham outras
fontes de renda e já não eram mais dependentes economicamente, o que
descaracterizaria um dos requisitos legais para receber o benefício. São casos
em que as filhas dos ex-servidores já recebem outros valores do Instituto
Nacional do Seguro Social ou mantêm emprego na iniciativa privada ou até mesmo
na administração pública.
O relator do caso no TCU, ministro Raimundo Carreiro, votou
para que fossem suspensas as pensões de beneficiárias que tivesse renda própria
superior ao valor do teto do regime geral do INSS em 2015 (R$ 4,6 mil). Com a
adoção deste critério, o número de benefícios considerados irregulares seria
reduzido para 7,7 mil pensões, e a economia para os cofres públicos cairia para
R$ 2,2 bilhões em quatro anos.
Parâmetro constitucional
Contudo, a Advocacia-Geral da União questionou a adoção do
parâmetro em memorial. No documento, a AGU apontou que o valor oficialmente
considerado como suficiente para uma subsistência digna – e, portanto, capaz de
descaracterizar a dependência econômica de outrem – é o salário mínimo.
A AGU afirmou que a tese tem fundamento na Constituição, que
inclusive adota o salário mínimo como valor mínimo de qualquer benefício
previdenciário (artigo 201, parágrafo 2) e de assistência social para a
manutenção de idoso ou pessoa com deficiência (artigo 203, inciso V).
A entidade pediu, ainda, para que o pagamento da pensão
fosse suspenso em todas as hipóteses de beneficiárias que exercem cargo
público, já que esta é uma vedação expressa que existe desde a Lei 3.373/58.
Fim dos pagamentos
O entendimento da AGU foi usado pelo revisor, ministro
Walton Alencar, que defendeu o fim do pagamento de todos as pensões que estejam
em desacordo com a lei e a jurisprudência do TCU. Em seu voto, Alencar destacou
casos de mulheres que são sócias de grandes empresas ou que já recebem outros
benefícios do INSS e, ainda assim, chegam a ganhar R$ 34 mil de pensão
especial. O revisor foi acompanhado pelos outros cinco ministros que votaram no
caso.
A corte decidiu que os órgãos públicos responsáveis pelos
pagamentos das pensões especiais devem, antes de suspender o repasse dos
valores, dar às beneficiárias suspeitas de receber o benefício de forma
irregular a oportunidade de se defenderem e comprovarem que não têm outras
rendas. Um plano de como o procedimento será feito no âmbito de cada órgão
deverá ser entregue ao TCU no prazo de 60 dias.
Fonte: Consultor Jurídico com informações da AGU